segunda-feira, 13 de julho de 2009


Vivendo sem Deus
Rotherham, 06 de Julho de 1760.

"Que, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo". (Efésios 2:12)

1. Talvez essas palavras possam ser mais propriamente traduzidas, ateístas no mundo. Isso parece ser uma expressão um pouco mais forte do que "sem Deus no mundo", o qual soa quase negativo, e, não necessariamente, implica alguma coisa mais, do que tendo nenhuma amizade ou comunicação com Deus. Ao contrário, a palavra ateísta é, comumente, entendida como significando alguma coisa positiva, -- ela não apenas contradiz qualquer comunicação com Ele, mas nega sua verdadeira existência.
2. O caso desses homens infelizes pode ser muito bem ilustrado por um incidente recente; a verdade a qual não se pode, razoavelmente, duvidar, havendo tão grande número de testemunhas: Dentro do coração de um velho carvalho, que fora cortado e dividido ao meio, saiu um sapo enorme que se arrastou, com toda a velocidade que pode, e foi embora. Agora, quanto tempo, nós podemos, provavelmente, imaginar, que essa criatura tinha estado lá? Não é inverossímil que ele pudesse ter permanecido em seu ninho por mais de cem anos. Não é improvável que foi, aproximadamente, se não, completamente, contemporâneo do carvalho; de um modo ou de outro, tendo sido enclausurado nele, no momento em que ele foi plantado. Não é, entretanto, irracional supor que ele viveu essa estranha forma de vida, pelo menos, um século. Nós dizemos, ele viveu; mas que modo de vida! Quão apetecível! Quão cobiçável! Como Cowley diz:
Ó, vida, mais preciosa e mais querida!
Ó, vida que Epicuro gostaria de compartilhar!
Vamos gastar alguns poucos pensamentos sobre esse caso tão incomum, e fazer algumas melhorias dele.
3. Esse pobre animal tinha órgãos de sentido; ainda assim, ele não tinha qualquer sensação. Ele tinha olhos, ainda assim, ele não tinha raio de luz que, alguma vez, entrasse em sua morada escura. Do mesmo primeiro instante de sua existência lá, ele foi encarcerado em sua impenetrável escuridão. Ele foi encarcerado do sol, lua, e estrelas, e da beleza da face da natureza; de fato, de todo o mundo visível, assim como se ele não tivesse existido.
4. Como o ar não poderia penetrar no esconderijo de sua pele, conseqüentemente, não seria possível a ele ouvir. Quaisquer que fossem seus órgãos, ele não poderia fazer uso deles; vendo que nenhuma ondulação de ar poderia encontrar um caminho, através das paredes que o cercavam. E não havia razão para acreditar que ele tinha algum senso análogo de cheiro ou gosto. Numa criatura que não precisou de comida alguma, esses não teriam algum uso possível. Nem havia lá algum meio, pelo qual, os objetos de cheiro e gosto pudessem se aproximar dele. Deveria ser muito pouco, se possível, afinal, que ele pudesse estar familiarizado, até mesmo, com o sentido geral, -- aquele do sentir: Como ele sempre continuou, em uma postura invariável, em meio às partes que o rodeavam, todos esses, sendo, imovelmente, fixados, poderiam trazer nenhuma nova impressão até ele. De modo que, ele tinha apenas um sentimento de hora em hora, e dia a dia, durante toda sua duração.
5. E como esse pobre animal estava destituído de sensação, ele deveria ter sido, igualmente, destituído de reflexão. Sua cabeça (de que espécie fosse), tendo nenhum material de trabalho nela, nenhuma idéia de sensação de alguma forma, não poderia produzir níveis de reflexão. Ele, escassamente, entretanto, poderia ter alguma memória, ou alguma imaginação. Nem poderia ter algum poder locativo, enquanto ele estivesse tão extremamente limitado por todos os lados. Mesmo que ele tivesse, em si mesmo, algumas fontes de movimento, ainda assim, seria impossível que aquele poder pudesse ser manifestado, porque a estreiteza de sua caverna não iria permitir alguma mudança de lugar.
6. Quão exato paralelo pode ser esboçado, entre essa criatura (dificilmente, pode ser chamada de animal), e o homem que está "sem Deus no mundo!". Tal como está a vasta maioria, mesmo daqueles que são chamados cristãos! Eu não quero dizer que eles são ateístas, no senso comum da palavra. Eu não acredito que esses são tão numerosos como muitos têm imaginado. Fazendo toda a inquisição e observação, nesses mais de cinqüenta anos, eu pude encontrar, a não ser, vinte que, seriamente, descriam da existência de Deus; além disso, eu encontrei apenas dois desses (para o melhor do meu julgamento), nas ilhas britânicas: ambos vivendo em Londres, e que tinham tido essa convicção muitos anos. Mas diversos aos depois, eles foram chamados para aparecer diante de Deus; tanto John S – e John B -- estavam completamente convencidos que havia um Deus; e o que é mais notável, eles foram, primeiro, convencidos de que Ele era um Deus poderoso e misericordioso. Eu menciono esses dois relatos, para mostrar, não apenas que existem os ateístas literais reais, no mundo; mas que, também, mesmo então, se eles forem condescendentes para perguntar, eles podem encontrar "graça para socorrê-los, em tempos de necessidade".
7. Mas eu não quero dizer, tal como esses, quando eu falo daqueles que são ateístas ou "sem Deus no mundo"; mas dos tais que são ateístas práticos; dos que não têm Deus em todos os seus pensamentos; dos tais que não têm familiaridade alguma com ele, nem têm qualquer companheirismo com ele; dos que não têm mais comunicação com Deus, ou com o mundo invisível, do que esse animal tinha com o mundo visível. Eu irei me esforçar para esboçar um paralelo, entre esses. E possa Deus aplicar isso no coração deles!
8. Cada um desses é, nessa exata situação, com respeito ao mundo invisível, como o sapo estava, com respeito ao mundo visível. Aquela criatura tinha, indubitavelmente, uma espécie de vida, tal como ele era. Certamente, tinha todas as partes internas e externas, que são essenciais para a vida animal; e, sem dúvida, ele tinha humores orgânicos, com os quais mantinha uma forma de circulação. Essa era uma vida, de fato! E, exatamente, tal como é a vida daquele que é ateísta, do homem "sem Deus no mundo". Que véu grosso há, entre ele e o mundo invisível, que, com respeito a ele, é como se não existisse! Ele não tem a menor percepção dele; nem a mais remota idéia. Ele não tem o menor sinal de Deus, do Sol intelectual; nem a menor atração em direção a ele, ou desejo de ter algum conhecimento de seus caminhos. Embora Sua luz seja dada a todas as terras, e Seu som em todas as extremidades do mundo, ainda assim ele não ouve mais do que uma música fictícia das esferas. Ele prova nada da santidade de Deus ou dos poderes do mundo a vir. Ele não sente (como nossa igreja explica) o trabalho do Espírito Santo em seu coração. Em uma palavra, ele não tem mais comunicação com o do mundo espiritual, do que essa pobre criatura tinha do mundo natural, enquanto fechada em sua clausura escura.
9. Mas, no momento em que o Espírito do Todo Poderoso tocou o coração dele que ainda estava sem Deus no mundo, isso quebrou a dureza de seu coração, e fez todas as coisas novas. O Sol da retidão surgiu, e brilhou sobre sua alma, mostrando a ele a luz da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Ele está em um mundo novo. Todas as coisas, ao seu redor, tornaram-se novas, como se nunca antes tivessem entrado em seu coração para serem concebidas. Ele vê, tão longe quanto seus olhos recentemente abertos podem suportar, a luz, os céus abertos, ao redor dele, brilhando, com suportes de bem-aventurança. Ele vê que ele tem "um advogado com o Pai, Jesus Cristo, o justo"; e que ele tem "a redenção no sangue Dele; a remissão de seus pecados". Ele vê "um caminho novo, que está aberto na santidade, pelo sangue de Jesus"; e sua "luz brilha mais e mais, para um dia perfeito".
10. Através do mesmo toque gracioso, ele, que antes tinha orelhas, mas não ouvia, agora é capaz de ouvir. Ele ouve a voz que se ergue dos mortos – a voz Dele que é a "ressurreição e a vida". Ele não é mais surdo para seus convites e comandos; para suas promessas ou ameaças; mas, agradecidamente, ouve cada palavra que procede de sua boca, e governa, dessa forma, os seus pensamentos, palavras e ações.
11. Ao mesmo tempo, ele recebe outro sentido espiritual, a capacidade de discernir o bem e o mal. Ele é capaz de provar, tanto quanto de ver, quão gracioso é o Senhor. Ele entra na santidade, através do sangue de Jesus, e prova os poderes do mundo a vir. Ele encontra o amor de Jesus, muito melhor do que o vinho; sim, mais doce do que o mel, ou que o favo de mel. Ele sabe o que aquilo significa: "toda tua vestimenta cheira mirra, aloés, e canela". Ele sente o amor de Deus espalhado ao redor de seu coração pelo Espírito Santo que é dado a ele; ou, como nossa igreja expressa, "sente o trabalho do Espírito de Deus em seu coração". Nesse meio tempo, pode ser, facilmente, observado que a substância de todas essas expressões figurativas está encerrada, nessa única palavra, fé; tomada em seu mais terrível sentido; sendo desfrutada, mais ou menos, por todo aquele que acredita no nome do Filho de Deus. Essa mudança, da morte espiritual para a vida espiritual, é, propriamente, um novo nascimento; todas as partículas, que são, admiravelmente, bem expressadas pelo Dr. Watts, em um verso:
Renove meus olhos, abra meus ouvidos,
E forme minha alma, mais uma vez;
Dê-me novas paixões, alegrias, e medos;
E transforme a pedra em carne!
12. Mas, antes dessa mudança universal, pode haver mudanças parciais no homem natural, que é, freqüentemente, enganado, por isso; não obstante, muitos digam: "Paz, paz!", para suas almas, onde não há paz. Pode haver não apenas uma mudança considerável na vida, de modo a deter o pecado aberto; sim, o pecado, facilmente, constante; mas também uma mudança considerável de temperamentos, convicção do pecado, desejos fortes, e resoluções boas. E aqui, nós não temos necessidade de tomar grandes cuidados; não, por um lado, menosprezar o dia das pequenas coisas; não, por outro, confundir quaisquer dessas mudanças parciais, com aquela mudança inteira e geral, o novo nascimento; aquela mudança completa da imagem do Adão terrestre, na imagem divina; da mente terrestre, sensual, diabólica, para a mente que estava em Cristo.
13. Fixem, entretanto em seus corações, que vocês podem ser mudados, em muitos outros aspectos, contudo, em Jesus Cristo; ou seja, de acordo com a instituição cristã, nada terá proveito, sem a mente total que estava em Cristo, capacitando vocês a caminharem como Cristo caminhou. Nada é mais certo do que isso: "Se algum homem está em Cristo", um verdadeiro crente nele, "ele será uma nova criatura": as coisas velhas, "nele", passaram; "todas as coisas se tornaram novas!".
14. Daí, nós podemos, claramente, perceber a diferença ampla que há entre o Cristianismo e a moralidade. De fato, nada pode ser mais certo do que aquele verdadeiro Cristianismo não poder existir, sem a experiência interior e a prática da justiça, misericórdia e verdade; e isso apenas é dado, na moralidade. Mas é igualmente certo que toda moralidade, toda justiça, misericórdia e verdade, que podem, possivelmente, existir, sem o Cristianismo, não traz proveito algum, afinal; não têm valor algum aos olhos de Deus, para aqueles que estão sob a dispensação cristã. Observe que eu, propositadamente, acrescentei "para aqueles que estão sob a dispensação cristã", já que eu não tenho autoridade, na Palavra de Deus, "para julgar aqueles que estão sem". Nem eu concebo que algum homem vivente tem o direito de sentenciar todo o mundo pagão e maometano, à condenação. É muito melhor deixá-los para ele que os fez, que é o "Pai de todos os espíritos de toda a carne"; que é o Deus dos pagãos, tanto quanto dos cristãos, e que tem nada do que ele tem feito. Mas, entretanto, isso é nada para aqueles que nomeiam o nome de Cristo: -- todos esses, estando sob a lei, a lei cristã, serão julgados, indubitavelmente, assim, e, por conseqüência, a menos que estejam mudados, como estava o animal acima mencionado; a menos que tenham sentidos, idéias, paixões, e temperamentos novos, eles não poderão ser considerados cristãos. Assim sendo, por mais justos, verdadeiros ou misericordiosos que eles possam ser, eles ainda serão ateístas!
15. Talvez, deva haver algumas pessoas bem intencionadas, que levam isso ainda mais longe; que afirmem que qualquer que seja a mudança forjada nos homens, se em seus corações ou vidas, ainda assim, se eles não têm a visão clara dessas doutrinas principais, a queda do homem, justificação pela fé, e da reparação feita, através da morte de Cristo, e de sua retidão transferida para eles, eles não podem ter benefício algum pela morte Dele. Eu não ouso, de modo algum, afirmar isso. Eu realmente não acredito nisso. Eu acredito na misericórdia de Deus com respeito às vidas e temperamentos dos homens, mais do que por suas idéias. Eu acredito que ele respeite a santidade do coração, mais do que a clareza da mente; e, que, se o coração do homem está repleto (pela graça de Deus, e o poder de Seu Espírito), com o amor humilde, gentil e paciente de Deus e homem, Deus não irá atirá-lo ao fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos, porque suas idéias não são claras, ou porque sua concepção está confusa. Sem santidade, eu reconheço, "nenhum homem verá ao Senhor"; mas eu não ousaria acrescentar, "ou, sem idéias claras".
16. Mas, retornando ao texto. Deixe-me implorar a todos vocês que ainda estão "sem Deus no mundo", para considerarem, com toda sua humanidade, benevolência e virtude, que vocês ainda estão enclausurados, nas sombras escuras e infernais. Meus queridos amigos! Vocês não vêem a Deus. Vocês não vêem o Sol da retidão. Vocês não têm camaradagem com o Pai, ou com seu Filho, Jesus Cristo. Vocês nunca ouviram a voz que ergue os mortos. Vocês não conhecem a voz de seu Pastor. Vocês não receberam o Espírito Santo. Vocês não têm os sentidos espirituais. Vocês têm apenas as suas antigas idéias, paixões, alegrias e medos; vocês não são novas criaturas. Ó clamem a Deus, que ele possa despedaçar o véu que ainda está sobre seus corações; e que não lhes dá a oportunidade de lamentar: "Ó, escuridão, escuridão, escuridão, eu ainda devo dizer, em meio à chama do Evangelho diário! Ó, que tu possas, nesse dia, ouvir minha voz, que fala, como nunca antes um homem falou, dizendo: 'Levanta, brilha, porque a tua luz é chegada, e a glória do Senhor se ergue sobre ti!'. Não é a voz dele que clama alto: 'Olha, para mim, e tu serás salvo?'. Ele diz: 'Olha! Eu vim!'. Assim também, Senhor Jesus! Venha depressa!".
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Editado por Jennifer Luhn, com correções por Ryan Danker e George Lyons, para o Wesley Center for Applied Theology at Northwest Nazarene University.
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