domingo, 19 de julho de 2009


Por que não conseguimos ouvir Deus?

Retitado do livro: Em Busca da Vontade de Deus - Daniel Yoder & Rebecca Brown
Ministério Guerreiros da Colheita
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1. Duvidamos que Deus seja a única fonte totalmente confiável de sabedoria. A promessa de sabedoria em Tiago 1:5 vem com uma condição: é preciso crer. Quando desejamos receber sabedoria de Deus diz o texto -, devemos crer que, verdadeiramente, Ele nos dará o que estamos pedindo: "Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida”.
Neste caso, a promessa de Deus de dar sabedoria aos que crêem é diretamente proporcional à realidade de que Ele desvia Sua sabedoria de nós quando duvidamos e não prestamos atenção às Suas instruções; quando somos levados de um lado para o outro pelos nossos desejos, que conflitam com a vontade expressa de Deus. Esta é uma das principais razões pelas quais se torna muito difícil descobrir a vontade de Deus: nós duvidamos que podemos, de fato, descobri-la.
Em outras palavras, se acreditamos que não iremos conhecer qual é a direção de Deus, realmente nunca iremos conhecê-la. Se, no entanto, mudamos de atitude e cremos que Deus irá cumprir Sua promessa, conforme escrito em Sua Palavra, e que nos dará sabedoria, então nossa fé O agrada e iremos, por fim, ouvir de Deus o que Ele tem para nós. Hebreus 11:6 explicitamente declara que, para termos nossas orações respondidas, precisamos crer convictamente nisto: "... pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam! ''
É necessário que removamos a incredulidade para que venhamos a receber a sabedoria que precisamos para identificar e cumprir a vontade de Deus para as nossas vidas.


2. Não somos pacientes o suficiente para esperar que o Senhor revele Seu plano e tentamos conseguir o que queremos por nossos próprios meios. Charles Stanley certa vez nos comparou a Esaú, que trocou seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas porque estava com fome e muito impaciente para esperar um pouco mais pela provisão do Senhor. Quando ficamos impacientes, cometemos erros tentando conseguir por nossos próprios esforços o que Deus nos providenciaria no tempo dEle se tivéssemos, ao menos esperado.
Isso nos impede de receber a sabedoria de Deus e perdemos as bênçãos maravilhosas que Ele queria que recebêssemos em resposta às nossas necessidades. Tais bênçãos são conhecidas como nosso “direito de primogenitura" como filhos de Deus.
Geralmente, nos esforçamos para conseguir imediatamente o que queremos. Quando conseguimos, nos sentimos vazios, como que segurando um prato que até há pouco estava cheio de lentilhas e que agora está sem nada. Tudo porque não confiamos e nem esperamos em Deus o suficiente.

3. Desejamos liberdade e independência "Confie no SENHOR de todo o seu coração e não se apóie em seu próprio entendimento; reconheça o SENHOR em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas. Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema o Senhor e evite o mal." (Provérbios 3:5-7).
Durante nossa adolescência, queremos muito alcançar liberdade e independência. E a vontade de vivermos nossas vidas da maneira que queremos, de irmos aonde queremos, quando queremos, com quem queremos. Logo depois, a vida adulta nos traz a liberdade que tanto desejávamos ter durante a adolescência, mas em um tempo crucial em nossas vidas. Até então, era responsabilidade dos nossos pais e da Igreja se certificarem de que estávamos sendo ensinados no caminho do Senhor.
Isso, para aqueles de nós que tiveram o privilégio de ter tido uma família cristã. Agora, como adultos, mais que nunca manter nossa vida e nosso relacionamento com Deus se tornou responsabilidade exclusivamente nossa. É um período difícil da vida, porque tendemos a pensar que podemos seguir os desejos do nosso próprio coração e acabamos ignorando a vontade de Deus para nós. Deixamos Deus de lado, o Pai que nos ama mais do que nós somos capazes de nos amar.
Em Provérbios 3, a Bíblia nos adverte que devemos ignorar nosso próprio entendimento e recusar ter nossa mente e emoções ditando as direções que devemos tomar. Algumas fontes de conselho são fáceis de rejeitar. Por exemplo: muitos americanos têm procurado psicólogos para obter ajuda e muitos cristãos fazem o mesmo. Não obstante, tanto Cléo como Dione Warwick [famosas psicólogas americanas] estão falidas e perdidas, com problemas até o pescoço. Mas a sabedoria e a verdade de Deus ainda estão valendo e sempre valerão: "Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão" (Mateus 24:35).
Louvado seja Deus! Os verdadeiros cristãos não precisam correr para psicólogos, pois estão firmados na Palavra de Deus e sabem que o Senhor nunca irá deixar de socorrê-los. Ademais, têm o entendimento de que ir atrás de ajuda psicológica mundana somente irá trazer destruição às suas vidas.
É fácil enganar um mundo descrente por causa da sua ignorância, o que deve ser óbvio para nós, cristãos. Além do mais, temos sido advertidos, inclusive pela Bíblia, de que podemos facilmente nos enganar com toda essa estupidez que o mundo nos oferece. Infelizmente, muitas vezes nós simplesmente não conseguimos enxergar a verdade por trás das coisas e acabamos caindo no engano.
Tem sido dito que as coisas mais influentes que podemos dizer são as coisas que dizemos a nós mesmos. E que ninguém pode nos enganar como nós mesmos. Nada é mais capaz de nos enganar e de nos levar a um caminho errado que o nosso próprio coração. Isto ocorre porque nosso coração sempre parece certo para nós, mesmo quando está completamente errado.
"O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. Quem é capaz de compreendê-lo?" (Jeremias 17:9)
O livro de Provérbios nos diz que, se quisermos viver uma vida estável e reta, devemos tapar os ouvidos para o que o nosso coração nos diz e seguir apenas a voz de Deus. O mundo diz: "ouça a voz do seu coração", mas a Palavra de Deus diz que ouvir esse conselho é imprudência e estupidez.
A verdade é que muitas pessoas têm aprendido, por experiência própria, como é difícil agir sem consultar a Deus, mas impulsionadas fortemente pela convicção humana em algo. Não vá atrás do que sua mente está dizendo para o seu coração fazer. Em vez disso, siga a Deus [somente]. Deixe que Ele diga ao seu coração o que fazer. Confie! Confie no Senhor de todo seu coração. Devemos deixar de andar independentes de Deus e passar a ter dependência absoluta do Senhor.
Podemos correr riscos de vida diariamente. Eu já tive que engatinhar em lugares extremamente apertados. Um deles foi um túnel no Vietnã, enquanto estava procurando um inimigo de guerra.
Meu oficial de comando havia me dito para não ir, mas desobedeci as ordens dele. Como conseqüência, enquanto eu estava lá dentro o túnel desabou sobre mim, deixando-me preso nos escombros. Você pode achar que, com isso, aprendi a ser obediente, mas não. Também estive em velhas minas, consideradas "INSEGURAS", seguindo apenas o meu próprio entendimento e vontade. Eram cavernas de demônios, esperando para me tirar a vida. E o pior de tudo é que acabei colocando os outros que vieram me resgatar em extremo perigo, tudo por causa da minha atitude de desobediência.
Se você não permite que o Senhor ilumine seu caminho, irá acabar preso em uma caverna demoníaca espiritual, sem discernir o certo do errado. Como conseqüência, alguns anos mais tarde estará se perguntando: "Como posso sair dessa bagunça de vida em que entrei?" Quanto mais distante estivermos desviados dos caminhos de Deus, mais difícil e dolorosa será a jornada de volta para Ele.
Permaneça no caminho do Senhor; tenha essa disposição como prioridade a qualquer coisa e irá desfrutar das bênçãos de uma vida centrada em Deus e dirigida por Ele. Confie no Senhor de todo o seu coração. Recuse seguir seu próprio entendimento. Não se considere sábio, pois acabará se descobrindo um tolo. Humildemente reconheça que você precisa de Deus para guiá-lo em cada decisão - seja ela grande ou pequena.
Obedeça a Deus e rejeite cada oportunidade de pecar. Este é um segredo importante.

4. Deixamos de prosseguir se não discernimos de imediato para onde Deus está nos levando.
"Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma". (Tiago 1:2-4)
Confie e seja paciente com Deus. Entenda que Ele tem um diferente do nosso. "Tudo fez formoso em seu tempo" (Ec 3:11).
Lembre-se de que Deus não é obrigado a mostrar, imediatamente, o que planejou para você. Na verdade, você pode não estar apto para lidar com os propósitos dEle no momento. Aprenda a aceitar a promessa de Deus de que Ele é "lâmpada para seus pés e luz para o seu caminho", como suficiente para o momento que está vivendo.
Você pode não perceber para onde o caminho que percorre o está levando, mas com certeza saberá, na hora certa, qual o próximo passo a ser dado. Raramente Deus nos mostra o caminho inteiro antecipadamente. Algumas vezes, Ele testa nossa paciência e confiança nEle; nessas situações, Sua direção não é revelada até o último minuto, quando realmente estivermos precisando dela.
Se Deus ainda não lhe deu as respostas e a direção que você tem procurado, continue esperando nEle e Ele irá cumprir Sua parte. O Senhor pode nem sempre lhe dar as respostas que você deseja, mas sempre irá lhe responder quando Ele estiver certo de que você realmente precisa delas. E Sua bondade não é menor se Ele esperar, como dissemos, até o ultimo momento, para iluminar o seu caminho.
Como os israelitas no deserto, algumas vezes somente temos de manter os nossos olhos na nuvem, durante o dia, e na coluna de fogo durante a noite; quando elas se moverem, nos movemos juntos. Devemos manter nossos olhos em Deus e ficarmos onde estamos até quando Ele assim determinar; só devemos nos mexer quando Ele nos direcionar a fazer isso. A nuvem e a coluna de fogo de Sua presença sempre estarão conosco. Apenas devemos manter, pacientemente, nossos olhos nEle e Ele não falhará quanto ao que deseja para nós.
Além disso, devemos examinar nosso coração e os desejos carnais contidos nele. Davi orou no Salmo 51:6 ao Senhor, dizendo "Sei que desejas a verdade no íntimo; e no coração me ensinas a sabedoria". Se estamos mentindo para nós mesmos a cerca do que queremos, pode ser que acabemos, de fato, fazendo valer nossa própria vontade, pensando ser o que Deus quer. Temos de ser honestos quanto às nossas expectativas, sonhos e desejos carnais, e tornar tudo muito mais fácil colocando todos esses desejos aos pés da cruz e seguindo a Deus.
Deus promete contentamento para aqueles que encontram alegria nEle. Honestamente, avalie seu coração e irá aprender a não andar atrás das coisas que roubam a alegria do Senhor da sua vida.

5. Desobedecemos a Bíblia porque achamos que podemos passar por cima dela... tentando sozinhos encontrar a solução dos nossos problemas.
Muitas vezes, entramos em conflito a cerca de qual seja a vontade de Deus para nossas vidas porque estamos esperando que Ele nos direcione a fazer algo que queremos fazer, mesmo que a Sua palavra afirme que esse algo é errado. Se este é o caso, ficaremos um longo tempo esperando, pois Deus nunca irá se contradizer. Deus é hoje o mesmo de ontem e de sempre. Termos chegado ao século 21 não mudou a vontade de Deus. Quando decidimos passar por cima do que Ele nos diz em Sua palavra, na esperança de que Ele nos faça uma exceção por causa das nossas circunstâncias, ficamos em conflito, pois Deus não muda de idéia quanto ao que diz em Sua palavra, não importa o quanto tentemos persuadi-Lo.
Cometemos esses erros porque achamos que Suas leis irão nos negar o que queremos e precisamos. James Dobson ilustrou este assunto com uma história sobre o seu hamster de estimação. O pobre hamster não entendia que era melhor para ele não sair da sua gaiola. Tentava com toda a sua força sair, sem saber que o gato de
Dobson estava sentado logo abaixo, torcendo para que o animalzinho saísse da gaiola. Entenda que tanto Dobson quanto o gato sabiam de algo que hamster não sabia. A gaiola não era apenas uma restrição que privava o hamster de determinada satisfação. Era uma segurança que Dobson havia providenciado para proteger o hamster do gato que queria devorá-lo.
É isso o que acontece com as leis de Deus. Se pensarmos que elas são para nos restringir e nos privar de satisfações, Satanás, "o gato", irá colocar pessoas em nosso caminho para nos dizer "Amém quanto a isso!". Satanás quer nos ver fora da vontade e da proteção de Deus, para que possa nos destruir. Quando ponderarmos as leis de Deus em nossa mente, iremos ouvir muitas vozes tentando relativizar o pecado. E se ouvirmos essas vozes de engano, acabaremos sendo enganados, fecharemos as portas das maravilhosas bênçãos do Senhor para nossas vidas e abriremos as portas de destruição para Satanás.
Satanás tem feito isso desde o início da raça humana. Ele foi até Eva e a persuadiu a fazer o que ela queria e que Deus lhe havia dito para não fazer.
Satanás sabia que a advertência de Deus era verdadeira - se ela comesse o fruto, sofreria morte espiritual e separação de Deus. O pecado nos separa de Deus e de Sua perfeita vontade para as nossas vidas. É isso o que Satanás quer e por causa disso irá, constantemente, nos bombardear com mensagens projetadas para nos levar a fazer o que queremos em vez de buscarmos a provisão de Deus.

6. Ouvimos maus conselhos de pessoas que não têm a vontade de Deus na mente.
Por fim, o último empecilho que nos dificulta identificar o desejo do Senhor para nós está nos muitos que se autodeclaram profetas e que falam apenas para conseguir nossa admiração, popularidade ou dinheiro. O Salmo 1 nos diz que a pessoa abençoada por Deus e aquela que "não segue o conselho dos ímpios". Ou seja, para encontrarmos as bênçãos de Deus, não devemos dar ouvidos àqueles que não têm o menor respeito pela Sua vontade. A pessoa não salva ou a pessoa que passa pouco tempo, ou tempo nenhum, em oração e em estudo da Bíblia, não está preparada para dar direção a qualquer pessoa. O mesmo Salmo diz que “abençoado será aquele cuja satisfação está na lei do SENHOR, e nessa lei medita dia e noite".

segunda-feira, 13 de julho de 2009


Vivendo sem Deus
Rotherham, 06 de Julho de 1760.

"Que, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo". (Efésios 2:12)

1. Talvez essas palavras possam ser mais propriamente traduzidas, ateístas no mundo. Isso parece ser uma expressão um pouco mais forte do que "sem Deus no mundo", o qual soa quase negativo, e, não necessariamente, implica alguma coisa mais, do que tendo nenhuma amizade ou comunicação com Deus. Ao contrário, a palavra ateísta é, comumente, entendida como significando alguma coisa positiva, -- ela não apenas contradiz qualquer comunicação com Ele, mas nega sua verdadeira existência.
2. O caso desses homens infelizes pode ser muito bem ilustrado por um incidente recente; a verdade a qual não se pode, razoavelmente, duvidar, havendo tão grande número de testemunhas: Dentro do coração de um velho carvalho, que fora cortado e dividido ao meio, saiu um sapo enorme que se arrastou, com toda a velocidade que pode, e foi embora. Agora, quanto tempo, nós podemos, provavelmente, imaginar, que essa criatura tinha estado lá? Não é inverossímil que ele pudesse ter permanecido em seu ninho por mais de cem anos. Não é improvável que foi, aproximadamente, se não, completamente, contemporâneo do carvalho; de um modo ou de outro, tendo sido enclausurado nele, no momento em que ele foi plantado. Não é, entretanto, irracional supor que ele viveu essa estranha forma de vida, pelo menos, um século. Nós dizemos, ele viveu; mas que modo de vida! Quão apetecível! Quão cobiçável! Como Cowley diz:
Ó, vida, mais preciosa e mais querida!
Ó, vida que Epicuro gostaria de compartilhar!
Vamos gastar alguns poucos pensamentos sobre esse caso tão incomum, e fazer algumas melhorias dele.
3. Esse pobre animal tinha órgãos de sentido; ainda assim, ele não tinha qualquer sensação. Ele tinha olhos, ainda assim, ele não tinha raio de luz que, alguma vez, entrasse em sua morada escura. Do mesmo primeiro instante de sua existência lá, ele foi encarcerado em sua impenetrável escuridão. Ele foi encarcerado do sol, lua, e estrelas, e da beleza da face da natureza; de fato, de todo o mundo visível, assim como se ele não tivesse existido.
4. Como o ar não poderia penetrar no esconderijo de sua pele, conseqüentemente, não seria possível a ele ouvir. Quaisquer que fossem seus órgãos, ele não poderia fazer uso deles; vendo que nenhuma ondulação de ar poderia encontrar um caminho, através das paredes que o cercavam. E não havia razão para acreditar que ele tinha algum senso análogo de cheiro ou gosto. Numa criatura que não precisou de comida alguma, esses não teriam algum uso possível. Nem havia lá algum meio, pelo qual, os objetos de cheiro e gosto pudessem se aproximar dele. Deveria ser muito pouco, se possível, afinal, que ele pudesse estar familiarizado, até mesmo, com o sentido geral, -- aquele do sentir: Como ele sempre continuou, em uma postura invariável, em meio às partes que o rodeavam, todos esses, sendo, imovelmente, fixados, poderiam trazer nenhuma nova impressão até ele. De modo que, ele tinha apenas um sentimento de hora em hora, e dia a dia, durante toda sua duração.
5. E como esse pobre animal estava destituído de sensação, ele deveria ter sido, igualmente, destituído de reflexão. Sua cabeça (de que espécie fosse), tendo nenhum material de trabalho nela, nenhuma idéia de sensação de alguma forma, não poderia produzir níveis de reflexão. Ele, escassamente, entretanto, poderia ter alguma memória, ou alguma imaginação. Nem poderia ter algum poder locativo, enquanto ele estivesse tão extremamente limitado por todos os lados. Mesmo que ele tivesse, em si mesmo, algumas fontes de movimento, ainda assim, seria impossível que aquele poder pudesse ser manifestado, porque a estreiteza de sua caverna não iria permitir alguma mudança de lugar.
6. Quão exato paralelo pode ser esboçado, entre essa criatura (dificilmente, pode ser chamada de animal), e o homem que está "sem Deus no mundo!". Tal como está a vasta maioria, mesmo daqueles que são chamados cristãos! Eu não quero dizer que eles são ateístas, no senso comum da palavra. Eu não acredito que esses são tão numerosos como muitos têm imaginado. Fazendo toda a inquisição e observação, nesses mais de cinqüenta anos, eu pude encontrar, a não ser, vinte que, seriamente, descriam da existência de Deus; além disso, eu encontrei apenas dois desses (para o melhor do meu julgamento), nas ilhas britânicas: ambos vivendo em Londres, e que tinham tido essa convicção muitos anos. Mas diversos aos depois, eles foram chamados para aparecer diante de Deus; tanto John S – e John B -- estavam completamente convencidos que havia um Deus; e o que é mais notável, eles foram, primeiro, convencidos de que Ele era um Deus poderoso e misericordioso. Eu menciono esses dois relatos, para mostrar, não apenas que existem os ateístas literais reais, no mundo; mas que, também, mesmo então, se eles forem condescendentes para perguntar, eles podem encontrar "graça para socorrê-los, em tempos de necessidade".
7. Mas eu não quero dizer, tal como esses, quando eu falo daqueles que são ateístas ou "sem Deus no mundo"; mas dos tais que são ateístas práticos; dos que não têm Deus em todos os seus pensamentos; dos tais que não têm familiaridade alguma com ele, nem têm qualquer companheirismo com ele; dos que não têm mais comunicação com Deus, ou com o mundo invisível, do que esse animal tinha com o mundo visível. Eu irei me esforçar para esboçar um paralelo, entre esses. E possa Deus aplicar isso no coração deles!
8. Cada um desses é, nessa exata situação, com respeito ao mundo invisível, como o sapo estava, com respeito ao mundo visível. Aquela criatura tinha, indubitavelmente, uma espécie de vida, tal como ele era. Certamente, tinha todas as partes internas e externas, que são essenciais para a vida animal; e, sem dúvida, ele tinha humores orgânicos, com os quais mantinha uma forma de circulação. Essa era uma vida, de fato! E, exatamente, tal como é a vida daquele que é ateísta, do homem "sem Deus no mundo". Que véu grosso há, entre ele e o mundo invisível, que, com respeito a ele, é como se não existisse! Ele não tem a menor percepção dele; nem a mais remota idéia. Ele não tem o menor sinal de Deus, do Sol intelectual; nem a menor atração em direção a ele, ou desejo de ter algum conhecimento de seus caminhos. Embora Sua luz seja dada a todas as terras, e Seu som em todas as extremidades do mundo, ainda assim ele não ouve mais do que uma música fictícia das esferas. Ele prova nada da santidade de Deus ou dos poderes do mundo a vir. Ele não sente (como nossa igreja explica) o trabalho do Espírito Santo em seu coração. Em uma palavra, ele não tem mais comunicação com o do mundo espiritual, do que essa pobre criatura tinha do mundo natural, enquanto fechada em sua clausura escura.
9. Mas, no momento em que o Espírito do Todo Poderoso tocou o coração dele que ainda estava sem Deus no mundo, isso quebrou a dureza de seu coração, e fez todas as coisas novas. O Sol da retidão surgiu, e brilhou sobre sua alma, mostrando a ele a luz da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Ele está em um mundo novo. Todas as coisas, ao seu redor, tornaram-se novas, como se nunca antes tivessem entrado em seu coração para serem concebidas. Ele vê, tão longe quanto seus olhos recentemente abertos podem suportar, a luz, os céus abertos, ao redor dele, brilhando, com suportes de bem-aventurança. Ele vê que ele tem "um advogado com o Pai, Jesus Cristo, o justo"; e que ele tem "a redenção no sangue Dele; a remissão de seus pecados". Ele vê "um caminho novo, que está aberto na santidade, pelo sangue de Jesus"; e sua "luz brilha mais e mais, para um dia perfeito".
10. Através do mesmo toque gracioso, ele, que antes tinha orelhas, mas não ouvia, agora é capaz de ouvir. Ele ouve a voz que se ergue dos mortos – a voz Dele que é a "ressurreição e a vida". Ele não é mais surdo para seus convites e comandos; para suas promessas ou ameaças; mas, agradecidamente, ouve cada palavra que procede de sua boca, e governa, dessa forma, os seus pensamentos, palavras e ações.
11. Ao mesmo tempo, ele recebe outro sentido espiritual, a capacidade de discernir o bem e o mal. Ele é capaz de provar, tanto quanto de ver, quão gracioso é o Senhor. Ele entra na santidade, através do sangue de Jesus, e prova os poderes do mundo a vir. Ele encontra o amor de Jesus, muito melhor do que o vinho; sim, mais doce do que o mel, ou que o favo de mel. Ele sabe o que aquilo significa: "toda tua vestimenta cheira mirra, aloés, e canela". Ele sente o amor de Deus espalhado ao redor de seu coração pelo Espírito Santo que é dado a ele; ou, como nossa igreja expressa, "sente o trabalho do Espírito de Deus em seu coração". Nesse meio tempo, pode ser, facilmente, observado que a substância de todas essas expressões figurativas está encerrada, nessa única palavra, fé; tomada em seu mais terrível sentido; sendo desfrutada, mais ou menos, por todo aquele que acredita no nome do Filho de Deus. Essa mudança, da morte espiritual para a vida espiritual, é, propriamente, um novo nascimento; todas as partículas, que são, admiravelmente, bem expressadas pelo Dr. Watts, em um verso:
Renove meus olhos, abra meus ouvidos,
E forme minha alma, mais uma vez;
Dê-me novas paixões, alegrias, e medos;
E transforme a pedra em carne!
12. Mas, antes dessa mudança universal, pode haver mudanças parciais no homem natural, que é, freqüentemente, enganado, por isso; não obstante, muitos digam: "Paz, paz!", para suas almas, onde não há paz. Pode haver não apenas uma mudança considerável na vida, de modo a deter o pecado aberto; sim, o pecado, facilmente, constante; mas também uma mudança considerável de temperamentos, convicção do pecado, desejos fortes, e resoluções boas. E aqui, nós não temos necessidade de tomar grandes cuidados; não, por um lado, menosprezar o dia das pequenas coisas; não, por outro, confundir quaisquer dessas mudanças parciais, com aquela mudança inteira e geral, o novo nascimento; aquela mudança completa da imagem do Adão terrestre, na imagem divina; da mente terrestre, sensual, diabólica, para a mente que estava em Cristo.
13. Fixem, entretanto em seus corações, que vocês podem ser mudados, em muitos outros aspectos, contudo, em Jesus Cristo; ou seja, de acordo com a instituição cristã, nada terá proveito, sem a mente total que estava em Cristo, capacitando vocês a caminharem como Cristo caminhou. Nada é mais certo do que isso: "Se algum homem está em Cristo", um verdadeiro crente nele, "ele será uma nova criatura": as coisas velhas, "nele", passaram; "todas as coisas se tornaram novas!".
14. Daí, nós podemos, claramente, perceber a diferença ampla que há entre o Cristianismo e a moralidade. De fato, nada pode ser mais certo do que aquele verdadeiro Cristianismo não poder existir, sem a experiência interior e a prática da justiça, misericórdia e verdade; e isso apenas é dado, na moralidade. Mas é igualmente certo que toda moralidade, toda justiça, misericórdia e verdade, que podem, possivelmente, existir, sem o Cristianismo, não traz proveito algum, afinal; não têm valor algum aos olhos de Deus, para aqueles que estão sob a dispensação cristã. Observe que eu, propositadamente, acrescentei "para aqueles que estão sob a dispensação cristã", já que eu não tenho autoridade, na Palavra de Deus, "para julgar aqueles que estão sem". Nem eu concebo que algum homem vivente tem o direito de sentenciar todo o mundo pagão e maometano, à condenação. É muito melhor deixá-los para ele que os fez, que é o "Pai de todos os espíritos de toda a carne"; que é o Deus dos pagãos, tanto quanto dos cristãos, e que tem nada do que ele tem feito. Mas, entretanto, isso é nada para aqueles que nomeiam o nome de Cristo: -- todos esses, estando sob a lei, a lei cristã, serão julgados, indubitavelmente, assim, e, por conseqüência, a menos que estejam mudados, como estava o animal acima mencionado; a menos que tenham sentidos, idéias, paixões, e temperamentos novos, eles não poderão ser considerados cristãos. Assim sendo, por mais justos, verdadeiros ou misericordiosos que eles possam ser, eles ainda serão ateístas!
15. Talvez, deva haver algumas pessoas bem intencionadas, que levam isso ainda mais longe; que afirmem que qualquer que seja a mudança forjada nos homens, se em seus corações ou vidas, ainda assim, se eles não têm a visão clara dessas doutrinas principais, a queda do homem, justificação pela fé, e da reparação feita, através da morte de Cristo, e de sua retidão transferida para eles, eles não podem ter benefício algum pela morte Dele. Eu não ouso, de modo algum, afirmar isso. Eu realmente não acredito nisso. Eu acredito na misericórdia de Deus com respeito às vidas e temperamentos dos homens, mais do que por suas idéias. Eu acredito que ele respeite a santidade do coração, mais do que a clareza da mente; e, que, se o coração do homem está repleto (pela graça de Deus, e o poder de Seu Espírito), com o amor humilde, gentil e paciente de Deus e homem, Deus não irá atirá-lo ao fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos, porque suas idéias não são claras, ou porque sua concepção está confusa. Sem santidade, eu reconheço, "nenhum homem verá ao Senhor"; mas eu não ousaria acrescentar, "ou, sem idéias claras".
16. Mas, retornando ao texto. Deixe-me implorar a todos vocês que ainda estão "sem Deus no mundo", para considerarem, com toda sua humanidade, benevolência e virtude, que vocês ainda estão enclausurados, nas sombras escuras e infernais. Meus queridos amigos! Vocês não vêem a Deus. Vocês não vêem o Sol da retidão. Vocês não têm camaradagem com o Pai, ou com seu Filho, Jesus Cristo. Vocês nunca ouviram a voz que ergue os mortos. Vocês não conhecem a voz de seu Pastor. Vocês não receberam o Espírito Santo. Vocês não têm os sentidos espirituais. Vocês têm apenas as suas antigas idéias, paixões, alegrias e medos; vocês não são novas criaturas. Ó clamem a Deus, que ele possa despedaçar o véu que ainda está sobre seus corações; e que não lhes dá a oportunidade de lamentar: "Ó, escuridão, escuridão, escuridão, eu ainda devo dizer, em meio à chama do Evangelho diário! Ó, que tu possas, nesse dia, ouvir minha voz, que fala, como nunca antes um homem falou, dizendo: 'Levanta, brilha, porque a tua luz é chegada, e a glória do Senhor se ergue sobre ti!'. Não é a voz dele que clama alto: 'Olha, para mim, e tu serás salvo?'. Ele diz: 'Olha! Eu vim!'. Assim também, Senhor Jesus! Venha depressa!".
*
Editado por Jennifer Luhn, com correções por Ryan Danker e George Lyons, para o Wesley Center for Applied Theology at Northwest Nazarene University.
© Copyright 1999 by the Wesley Center for Applied Theology.
O texto pode ser usado livremente para propósitos pessoais ou escolares, ou colocados em Web sites. Qualquer uso para propósito comercial é estritamente proibido, sem permissão expressa do Wesley Center, em Northwest Nazarene University, Nampa, ID 83686. Contato: webadmin@wesley.nnc.edu

domingo, 12 de julho de 2009



UMA BREVE HISTÓRIA DO EVANGELISMO


Durante o 1.° século depois de Cristo, os Seus se­guidores possuíam um zelo insaciável e uma paixão ardente para persuadir os homens a respeito de Cristo. Eles lembraram da Sua promessa de voltar tão logo eles tivessem pregado o Evangelho "a cada criatura" — tão logo "todas as nações tivessem ouvido o Evangelho" "como um testemunho", Mat. 24.14.
Mas depois, no 2.° século, o cristianismo ficou ema­ranhado em controvérsias teológicas. Em vez de abrir caminho para os "confins da terra", eles começaram a discutir sobre pontos de doutrina.
O 3.° século encontrou os cristãos afundando em genuina apostasia.
O 4.° século fechou a brecha e o desvio e a acomo­dação estavam completos.
O cristianismo mergulhou, então, por mil anos, em terríveis trevas espirituais — Idade das Trevas, e esses terríveis mil anos são o véu que separou a Igreja de hoje de conceito do Novo Testamento.
Martinho Lutero foi o primeiro a escapar das trevas com a revelação de que "os justos viverão pela fé". Mas a Reforma de Lutero não foi uma volta à prática de conquistar almas em massa nem pessoalmente; e sim uma revolta contra a hierarquia religiosa, e um ousado desafio para o leigo examinar por si mesmo a Palavra de Deus — algo que era proibido pelo clero dominador.
Mas Lutero quase nada disse a respeito de missões nem de evangelismo mundial. De fato, era já 1800 depois de Cristo quando William Carey trouxe à frente, nova­mente, o conceito de missões.
Os ensinamentos do Espírito Santo não foram redes cobertos até este século 20. Imaginem só!

sábado, 4 de julho de 2009

Reflita


Há abusos em nome de Deus”



Jornalista relata os danos do assédio espiritual cometido por líderes evangélicos
Kátia Mello
A igreja evangélica está doente e precisa de uma reforma. Os pastores se tornaram intermediários entre Deus e os homens e cometem abusos emocionais apoiados em textos bíblicos. Essas são algumas das afirmações polêmicas da jornalista Marília de Camargo César em seu livro de estreia, Feridos em nome de Deus (editora Mundo Cristão), que será lançado no dia 30. Marília é evangélica e resolveu escrever depois de testemunhar algumas experiências religiosas com amigos de sua antiga congregação.



ENTREVISTA - MARÍLIA DE CAMARGO CÉSAR




ÉPOCA – Por que você resolveu abordar esse tema? Marília de Camargo César – Eu parti de uma experiência pessoal, de uma igreja que frequentei durante dez anos. Eu não fui ferida por nenhum pastor, e esse livro não é nenhuma tentativa de um ato heroico, de denúncia. É um alerta, porque eu vi o estado em que ficaram meus amigos que conviviam com certa liderança. Isso me incomodou muito e eu queria entender o que tinha dado errado. Não quero que haja generalizações, porque há bons pastores e boas igrejas. Mas as pessoas que se envolvem em experiências de abusos religiosos ficam marcadas profundamente.



ÉPOCA – Qual foi a história que mais a impressionou? Marília – Uma das histórias que mais me tocaram foi a de uma jovem que tem uma doença degenerativa grave. Em uma igreja, ela ouviu que estava curada e que, caso se sentisse doente, era porque não tinha fé suficiente em Deus. Essa moça largou os remédios que eram importantíssimos no tratamento para retardar os efeitos da miastenia grave (doença autoimune que acarreta fraqueza muscular). O médico dela ficou muito bravo, mas ela peitou o médico e chegou a perder os movimentos das pernas. Ela só melhorou depois de fazer terapia. Entendeu que não precisava se livrar da doença para ser uma boa pessoa.



ÉPOCA – Que tipo de experiência você considera como abuso religioso e que marcas são essas? Marília – Meu livro é sobre abusos emocionais que acontecem na esteira do crescimento acelerado da população de evangélicos no Brasil. É a intromissão radical do pastor na vida das pessoas. Um exemplo: uma missionária que apanha do marido sistematicamente e vai parar no hospital. Quando ela procura um pastor para se aconselhar, ele fala assim para ela: “Minha filha, você deve estar fazendo alguma coisa errada, é por isso que o teu marido está se sentindo diminuído e por isso ele está te batendo. Você tem de se submeter a ele, porque biblicamente a mulher tem de se submeter ao cabeça da casa. Então, essa mulher, que está com a autoestima lá embaixo, que apanha do marido - inclusive pelo Código Civil Brasileiro ele teria de ser punido - pede um conselho pastoral e o pastor acaba pisando mais nela ainda. E ele usa a Bíblia para isso. Esse é um tipo de abuso que não está apenas na igreja pentecostal ou neopentecostal, como dizem. É um caso da Igreja Batista, em que, teoricamente, os protestantes históricos têm uma reputação melhor.



ÉPOCA – Seu livro questiona a autoridade pastoral. Por quê? Marília – As igrejas que estão surgindo, as neopentecostais, e não as históricas, como a presbiteriana, a batista, a metodista, que pregam a teologia da prosperidade, estão retomando a figura do “ungido de Deus”. É a figura do profeta, do sacerdote, que existia no Antigo Testamento. No Novo Testamento, não existe mais isto. Jesus Cristo é o único mediador. Então o pastor dessas igrejas mais novas está se tornando o mediador. Para todos os detalhes da sua vida, você precisa dele. Se você recebeu uma oferta de emprego, o pastor pode dizer se deve ou não aceitá-la. Se estiver paquerando alguém, vai dizer se deve ou não namorar aquela pessoa. O pastor, em vez de ensinar a desenvolver a espiritualidade, determina se aquele homem ou aquela mulher é a pessoa da sua vida. E o pastor está gostando de mandar na vida dos outros, uma atitude que abre um terreno amplo para o abuso.



ÉPOCA – Você também fala que não é só culpa do pastor. Marília – Assim como existe a onipotência pastoral, existe a infantilidade emocional do rebanho, que é o que o Sérgio Franco, um dos pastores psicanalistas entrevistados no livro, fala. A grande crítica do Freud em relação à religião era essa. Ele dizia que a religião infantiliza as pessoas, porque você está sempre transferindo as suas decisões de adulto - que são difíceis - e a figura do sagrado, no caso aqui o líder religioso, para a figura do pai ou da mãe - o pastor, a pastora. É a tendência do ser humano em transferir responsabilidade. O pastor virou um oráculo. É mais fácil ter alguém, um bode expiatório, para pôr a culpa nas decisões erradas tomadas.
“O pastor está gostando de mandar na vida dos outros e receber presentes. Isso abre espaço para os abusos”



ÉPOCA – Quais são os grandes males espirituais que você testemunhou? Marília – Eu vi casamentos se desfazer, porque se mantinham em bases ilusórias. Vi também pessoas dizendo que fazer terapia é coisa do Diabo. Há pastores contra a terapia que afirmam que ela fortalece a alma e a alma tem de ser fraca; o espírito é que tem que ser forte. E dizem isso supostamente apoiados em textos bíblicos. Dizem que as emoções têm de ser abafadas e apenas o espírito ser fortalecido. E o que acontece com uma teologia dessas? Psicoses potenciais na vida das pessoas que ficam abafando as emoções. As pessoas que aprenderam essa teologia e não tiveram senso crítico para combatê-la ficaram muito mal. Conheci um rapaz com muitos problemas de depressão e de autoestima que encontrou na igreja um ambiente acolhedor. Ele dizia ter ressuscitado emocionalmente. Só que com o passar dos anos, o pastor se apoderou dele. Mas ele começou a perceber que esse pastor é gente, que gosta de ganhar presentes e que usa a Bíblia para se justificar. Uma das histórias que mais me tocou foi a de uma jovem que tem uma doença degenerativa grave. Ela foi para uma dessas igrejas e ouviu que se estivesse sentindo ainda doente era porque não tinha fé suficiente em Deus. Essa moça largou os remédios que eram importantíssimos no tratamento para retardar os efeitos da miastenia grave (doença auto-imune que acarreta fraqueza muscular). O médico dela ficou muito bravo e não a autorizou. Mesmo assim, ela peitou o médico e chegou a perder os movimentos das pernas. Ela só melhorou depois de fazer terapia. Ela entendeu que não precisava se livrar da doença para ser uma boa pessoa.



ÉPOCA – Por que demora tanto tempo para a pessoa perceber que está sendo vítima? Marília – Os abusos não acontecem da noite para o dia. A pessoa que está sendo discipulada, que aprende com o pastor o que a Bíblia diz, desenvolve esse relacionamento aos poucos. No primeiro momento, ela idealiza a figura do líder, como alguém maduro, bem preparado. É aquilo que fazemos quando estamos apaixonados: não vemos os defeitos. O fiel vê esse líder como um intermediário, como um representante de Deus que tem recados para a vida dele, um guru. E o pastor vai ganhando a confiança dele num crescendo, como numa amizade. Esse líder, que acredita que Deus o usa para mandar recados para sua congregação, passa a ser uma referência na vida do fiel. O fiel, pro sua vez, sente uma grande gratidão por aquele que o ajudou a mudar sua vida para melhor. Ele se sente devedor do pastor e começa, então, a dar presentes. O fiel quer abençoar o líder porque largou as drogas, ou parou de beber, ou parou de bater na mulher, ou porque arrumou um emprego e está andando na linha. E começa a dar presentes de acordo com suas posses. Se for um grande empresário, ele dá um carro importado para o pastor. Isso eu vi acontecer várias vezes. O pastor, por sua vez, gosta de receber esses presentes. É quando a relação se contamina, se torna promíscua. E o pastor usa a Bíblia para dizer que esse ato é bíblico. O poder está no uso da Bíblia para legitimar essas práticas.



ÉPOCA – Qual é o limite da autoridade pastoral? Marília – O pastor tem o direito de mostrar na Bíblia o que ela diz sobre certo tema. Como um bom amigo, ele tem o direito de dar um conselho. Mas ele tem de deixar claro que aquilo é apenas um conselho. Pode até falar que o resultado disso ou daquilo pode ser ruim para a vida do fiel. Mas ele não pode mandar a pessoa fazer algo em nome de Deus. O que mais fere as pessoas é ouvir uma ordem em nome de Deus. Se é Deus, então prova! Se Deus fala para o pastor, por que Ele não fala para o fiel? Eles estão sendo extremamente autoritários.



ÉPOCA – Você afirma que muitos dos pastores não agem por má-fé, mas por uma visão messiânica. Explique. Marília – É uma visão messiânica para com seu rebanho. Lutero (teólogo alemão responsável pela reforma protestante no século XVI) deve estar dando voltas na tumba. Porque o pastor evangélico virou um papa que é a figura mais criticada no catolicismo, o inerrante. E não existe essa figura, porque somos todos errantes, seres faltantes, como já dizia Freud. Pastor é gente. E é esse pastor messiânico que está crescendo no evangelismo. Existe uma ruptura entre o Antigo e o Novo Testamento, que é a cruz. A reforma de Lutero veio para acabar com a figura intermediária e a partir dela veio a doutrina do sacerdócio universal. Todos têm acesso a Deus. Uma das fontes do livro disse que precisamos de uma nova reforma e eu concordo com ela. Essa hierarquização da experiência religiosa, que o protestante tanto combateu no catolicismo, está se propagando. Você não pode mais ter a conversa direta com o divino. Porque tem aquela coisa da “oração forte” do pastor. Você acha que ele ora mais que você, que ele tem alguma vantagem espiritual e, se você gruda nele, pega uma lasquinha. Isso não existe. Somos todos iguais perante Deus.



ÉPOCA – Se a igreja for questionada em seus dogmas, ela não deixará de ser igreja? Marília – Eu não acho isso. A igreja tem mesmo de ser questionada, inclusive há pensadores cristãos contemporâneos que questionam o modelo de igreja que estamos vivendo e as teologias distorcidas, como a teologia da prosperidade, que são predominantemente neopentecostais e ensinam essa grande barganha. Se você não der o dízimo, Deus vai mandar o gafanhoto. Simbolicamente falando, Ele vai te amaldiçoar. Hoje o fiel se relaciona com o Divino para as coisas darem certo. Ele não se relaciona pelo amor. Essa é uma das grandes distorções.



ÉPOCA – Por que você diz que existe uma questão cultural no abuso religioso? Marília – Porque o brasileiro procura seus xamãs, e isso acontece em todas as religiões. O brasileiro é extremamente religioso. A ÉPOCA até publicou uma matéria sobre isso, dizendo que a maioria acredita em algo e se relaciona com isso, tentando desenvolver seu lado espiritual. O brasileiro gosta de ter seu oráculo. A pessoa que vem do catolicismo, onde há centenas de santos, e passa a ser evangélica transfere aquela prática e cultura do intermediário para o protestantismo, e muitas igrejas dão espaço para isso. O pastor Edir Macedo (da igreja Universal) trouxe vários elementos da umbanda, do candomblé, porque ele é convertido. Ele diz que o povo precisa desses elementos -que ele chama de pontos de contato - para ajudar a materializar a experiência religiosa. A Bíblia condena tudo isso.



ÉPOCA – No livro você dá alguns alertas para não cair no abuso religioso. Fale deles. Marília – Desconfie de quem leva a glória para si. Um conselho é prestar atenção nas visões megalomaníacas. Uma das características de quem abusa é querer que a igreja se encaixe em suas visões, como quere ganhar o Brasil para Cristo e colocar metas para isso. E aquele que não se encaixar é um rebelde, um feiticeiro. Tome cuidado com esse homem. Outra estratégia é perguntar a si mesmo se tem medo do pastor ou se pode discordar dele. A pessoa que tem potencial para abusar não aceita que discorde dela, porque é autoritária. Outra situação é observar se o pastor gosta de dinheiro e ver os sinais de enriquecimento ilícito. São esses geralmente os que adoram ser abençoados e ganhar presentes. Cuidado com esse cara.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Preso pelo evangelho, vc aguentaria?