sábado, 12 de novembro de 2011



Thomas Watson



Um trecho do sermão "A Divine Cordial" (Um Tônico Divino)- 1663

“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito”. (Romanos 8:28)
Primeiro precisamos considerar QUE coisas cooperam para o bem do homem piedoso; e aqui iremos mostrar que tanto as coisas boas quanto as piores, cooperam para o bem deles.
. . Não me entenda mal, eu não digo que em sua própria natureza, as piores coisas são boas, pois elas são fruto de uma maldição. Mas embora elas sendo naturalmente más – não obstante, elas são moralmente boas quando a sábia e soberana mão de Deus as controla e as santifica. Como os elementos, embora de qualidades diferentes, Deus os ajusta de tal forma que todos eles irão cooperar de forma harmoniosa para o bem do universo. Ou como num relógio as engrenagens parecem se mover de forma contrária as outras – mas todas fazem com que o relógio funcione. Assim, algumas coisas parecem se mover de forma contrária ao homem piedoso – não obstante, pela maravilhosa providência de Deus, elas cooperam para o bem deles. Entre essas piores coisas, existem quatro coisas más e tristes que cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

1. O mal da AFLIÇÃO coopera para o bem do homem piedoso.
. . Algo que nos aquieta o coração é considerar que em todas as aflições, Deus está operando de forma especial: “O Todo-poderoso tem me afligido” (Rute 1:21). Instrumentos não podem mais se mexer até que Deus ordene da mesma forma que um machado não pode cortar sem uma mão. Jó viu Deus em sua aflição, mas com Agostinho observa, ele não diz: “O Senhor deu e o diabo tirou”, mas “O Senhor deu e o Senhor tirou”. Seja quem for que nos traz aflição, é Deus quem a envia.
. . Outra consideração que nos aquieta o coração é que as aflições cooperam para o bem. “Eu os enviei para o cativeiro para o seu próprio bem.” (Jer. 24:6). O cativeiro de Judá a Babilônia foi para seu bem. ”Foi-me bom ter eu passado pela aflição” (Salmo 119:71). Que esse texto, como a vara de Moisés lançada nas águas amargas da aflição, possa fazê-las doce e salutar para que você a beba. Aflições são medicinais para o homem piedoso. Da droga mais venenosa Deus extrai nossa salvação. Aflições são tão necessárias quanto às ordenanças (1 Pedro 1:6). Nenhum vaso pode ser feito de ouro sem fogo; assim é impossível que devamos ser vasos de honra, a não ser que sejamos derretidos e refinados na fornalha da aflição. “Todas as veredas do Senhor são misericórdia e verdade” (Salmo 25:10). Assim como o pintor mistura cores coloridas com sombras escuras; o sábio Deus mistura misericórdia com julgamento. Aquelas providências aflitivas que parecem ser prejudiciais, são benéficas. Vamos ver alguns exemplos das Escrituras:
. . Os irmãos de José o jogaram em um poço; posteriormente eles o venderam; depois ele é jogado numa prisão; não obstante, tudo isso cooperou para seu bem. A sua humilhação foi que causou sua progressão, ele se tornou o segundo homem no reino. “Vós na verdade intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem” (Gn. 50:20).
. . Jacó lutou com o anjo, e a junta da sua coxa foi deslocada. Isto foi triste, mas Deus o tornou em bem, pois lá ele viu a face de Deus e lá o Senhor o abençoou. “Aquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face” (Gn. 32:30). Quem não estaria disposto a ter um osso deslocado para que pudesse ter uma visão de Deus?
. . O rei Manassés foi amarrado em cadeias. Foi algo triste – uma coroa de ouro se transformou em grilhões. Mas isso cooperou para seu bem. “Pelo que o SENHOR trouxe sobre eles os príncipes do exército do rei da Assíria, os quais prenderam Manassés com ganchos, amarraram-no com cadeias e o levaram à Babilônia. Ele, angustiado, suplicou deveras ao SENHOR, seu Deus, e muito se humilhou perante o Deus de seus pais; fez-lhe oração, e Deus se tornou favorável para com ele, atendeu-lhe a súplica e o fez voltar a Jerusalém, ao seu reino; então reconheceu Manassés que o SENHOR era Deus” (2 Cr. 33:11-13). Ele era mais devedor a sua cadeia de ferro do que a sua coroa de ouro. Uma o fez orgulhoso, a outra o fez humilde.
. . Jó um espetáculo de miséria; ele perdeu tudo que sempre teve; ele abundou somente em feridas e úlceras. Foi algo triste; mas isso cooperou para seu bem, sua virtude foi provada e melhorada. Do céu Deus deu testemunho de sua integridade, e o compensou sua perda dando o dobro de tudo o que antes possuíra (Jó 42:10).
. . Paulo foi atingido por uma cegueira. Foi algo desconfortável; mas isso se tornou em bem para ele. Deus, pela sua cegueira, fez com que a luz da graça brilhasse em sua alma; isso foi o começo de uma feliz conversão (Atos 9).
. . Assim como as duras geadas no inverno trazem as flores na primavera; assim como a noite precede a estrela da manhã. Assim os males das aflições produzem muito bem para aqueles que amam a Deus. Mas estamos prontos a questionar a veracidade disso, e dizer, como Maria disse ao anjo, “Como pode ser isso?” Portanto te mostrarei muitas maneiras de como as aflições cooperam para o bem.

. . (1). Aflição coopera para o bem como nosso pregador e mestre:
. . “Escutai a vara” (Miquéias 6:9). Lutero disse que ele não pôde entender corretamente alguns dos Salmos até que ele esteve em aflição.
. . Aflição ensina o que é o pecado. Na palavra pregada, nós ouvimos como o pecado é uma coisa horrível, ele tanto desfigura quanto condena. Mas nós o tememos tanto quanto um leão numa pintura; portanto Deus permite a aflição e então sentimos o amargo do pecado em seu próprio fruto. Uma cama enferma geralmente ensina mais que um sermão. Nós podemos ver melhor o feio semblante do pecado quando olhamos pelas lentes da aflição!
. . Aflição nos ensina a conhecer a nós mesmos. Na prosperidade nós somos na maioria das vezes estranhos a nós mesmos. Deus nos aflige para que possamos nos conhecer melhor. É em tempo de aflições que vemos aquela corrupção em nossos corações que não acreditaríamos que estava lá. A água parece limpa num copo, mas ponha ela no fogo e a sua impureza vai fervilhar. Na prosperidade, um homem parece ser humilde e grato, a água parece limpa; mas ponha esse homem um pouco no fogo da aflição, e suas impurezas começam a fervilhar; muita impaciência e incredulidade começam a aparecer. “Oh”, diz um Cristão, “eu nunca pensei que tinha um coração tão mau, agora eu vejo que tenho! Eu nunca pensei que minhas corrupções fossem tão fortes e minhas virtudes tão pequenas.”

. . (2). Aflições cooperam para o bem, pois elas são meios de fazer com que o coração seja mais voltado para o alto.
. . Na prosperidade o coração está apto para ser dividido (Oséias 10:2). O coração se divide em uma parte para Deus e outra para o mundo. É como uma agulha entre dois imãs: Deus puxa de um lado e o mundo do outro. Agora Deus afasta o mundo para que o coração possa se inclinar mais a Ele em sinceridade. A correção põe o coração numa posição reta. Assim como às vezes nós seguramos uma barra de ferro torta sobre o fogo para endireitá-la; Deus nos segura sobre o fogo da aflição para nos fazer mais retos e mais voltados para o alto. Oh, como é bom, quando o pecado nos entorta deixando-nos longe de Deus, aquela aflição pode nos endireitar de novo.

. . (3). Aflições cooperam para o bem, pois elas nos conformam a imagem de Cristo.
. . A vara de Deus é como um pincel que pinta a imagem de Cristo de forma cada vez mais vívida em nós. É bom que deva haver uma simetria e proporção entre a Cabeça e os membros. Seríamos parte do corpo místico de Cristo sem sermos parecidos com Ele? Sua vida, como diz Calvino, foi uma série de sofrimentos, “um homem de dores e que sabe o que é padecer” (Isaías 53:3). Ele chorou e sangrou. Sua cabeça foi coroada com espinhos, e nós achamos que seremos coroados com rosas? É bom ser parecido com Cristo mesmo que seja através das aflições. Jesus Cristo bebeu um amargo cálice, e o só pensar nisso fez Ele suar gotas de sangue; e embora Ele tenha bebido o veneno que havia no cálice (a ira de Deus) ainda há algum absinto no cálice que os santo devem beber; apenas aqui está a diferença entre o sofrimento de Cristo e o nosso: o dEle foi expiatório e o nosso é apenas purificador.

Original: A Divine Cordial By Thomas Watson
Tradução: Joelson Galvão Pinheiro, colaborador do Voltemos ao Evangelho

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