sábado, 21 de maio de 2011




NÃO QUERO MAIS IR PARA A IGREJA

Definitivamente, cansei de ir para a igreja. Estou cônscio de que uma afirmativa dessas partindo de um pastor soa, no mínimo, esquisita. Contudo, peço a você que não me julgue antes de terminar de ler todo o texto. Talvez, após isso você seja mais um a somar o pequeno número daqueles que como eu não aguentam mais ir para a igreja. A bem da verdade, este é o propósito das presentes palavras. Hã!? Você não quer deixar de ir para a igreja? Ok! Então , tchau!!! Não ficarei ofendido por não ler mais estas linhas.

Você continua aí? Obrigado, então, pela paciência! Sinto-me na dívida de honrá-la esclarecendo o assunto a que me propus ecrever. Não quero mais ir para a igreja. Simplesmente porque não quero mais abraçar uma instituição. Recuso-me a ir para a igreja, porque tenho horror de uma fé dogmática e dogmatizada. Não desejo mais ir para a igreja porque não suporto mais aglomeração.

Não há como negar que a igreja que vemos e experimentamos hoje nada tem a ver com aquilo que Deus descreveu nas páginas das Escrituras Sagradas. A disparidade já começa no fato de que hoje se vai para a igreja ao ivés de seestar com a igreja. Assim, não quero mais ir para igreja, porque igreja não é lugar a que se vai, mas, uma realidade da qual se faz parte; algo que se é. Eu estou com a igreja. Eu sou igreja.

Acredito que a distância para o ideal divino é grande. Antes eu pensava se tratar de um rio onde algumas poucas braçadas já seriam o suficiente para se chegar de uma margem a outra. Mas, hoje um pouco mais com os pés no chão e menos deslumbrado com megas-promessas de megas-ferramentas de crescimento para megas-igrejas, percebo que não se trata de um rio, mas, de um oceano divisor de continentes, a ser atravessado. Minha sugestão é a de que tal travessia seja feita de barco a remo e não de jato super sônico. Até porque a pressa com que as pessoas aceitaram certos conceitos num passado não muito diantante, pode ter sido a causa da imperfeição a que a igreja cristã chegou nos dias de hoje. Num barquinho a gente navega mais devagar e reflete um pouco mais.

Apesar do oceano a ser transposto, acredito eu que um retorno possa ser possível. (Até certo ponto, é claro). Desejo ser otimista quando se trata da noiva de Cristo. Afinal, ela é de Cristo. E não sua, nem minha ou de mais alguém. Ela tem dono porque foi adquirida sob alto preço. Assim sendo, algumas “remadas” se fazem necessárias para que a distância continental entre o ideal divino de igreja e o nosso sonho narcisista diminua.

Podemos começar pensando no fato de que a igreja tem que deixar de ser encarada como um lugar que se tem que ir. Logo, se a igreja é um lugar é certo eu dizer que vou para a igreja. Só que os cristãos bíblicos nunca iam par a igreja. Eles iam sim, mas, para estar com a igreja. Para, no estar juntos, ser igreja. A igreja se apresenta como realidade viva e dinâmica nas páginas do Novo Testamento. Mutante na localidade de sua reunião. Hoje ela podia estar reunida na casa do irmão Carlos. Mas amanhã na casa da irmã Jussara; e amanhã na casa do José; e amanhã na casa da Maria; e amanhã…; e amanhã… Entendeu? Era mais ou menos assim. O lugar não importava. O que valia era ser e estar com. O viver em comum(nidade).

Também há uma necessidade gritante de se simplificar o modus operandi do ser igreja hoje . Creio que não precisamos tanto assim de mais templos grandes e suntuosos (ora, o que desejamos ser: um grande transatlântico de vários andares onde as pessoas do de cima não conhecem as do debaixo, ou uma canoa em que precisamos dar as mãos para manter o equilíbrio para não virar?); da mesma forma tenho a impressão de serem desnecessários, igualmente, os grades programas, as grandes cantatas, os grandes planejamentos, as grandes reuniões. Parece-me que a igreja a muito sofre de um complexo de Titã: de Deus e para Deus tudo tem que ser grande. Grandes ministérios; mega-estruturas eclesiásticas. Mas, será tudo isso realmente necessário para se ser igreja? Para se estar com a igreja? Acredito que não. E talvez a vida de Cristo nos conceda algumas pistas acerca do padrão simples com que Deus encara as grandes coisas.

Outra remada urgente a ser dada é a necessidade de se cuidar de pessoas. Quando o foco está no lugar errado, o que realmente é importante acaba sendo deixado de lado. Quando superestimamos o secundário acabamos negligenciando o principal. E infelizmente, percebemos que hoje se gerencia estruturas ao ivés de se cuidar de vidas. A vida humana é grande e grandiosa. Isso pelo menos por dois fatores: primeiro porque foi criada à imagem e semelhança de Deus e em segundo porque foi dignificada pela encarnação do Verbo; o Logus de Deus, Jesus Cristo. Sendo assim, atentar para estruturas em detrimento do bem humano é no mínimo desprezar a glória e mistério da encarnação. É trocar diamante por cristal; ouro puro pelo dos trouxas.

Outra coisa importante é a necessidade de descentralização ministerial. Na igreja bíblica todos são ministros. Cada membro um sacerdote para Deus. Hoje vemos o monopólio da vida eclesiástica por uns poucos que sob um ou outro título se apresentam como aqueles investidos de autoridade espiritual sobre a vida do rebanho. São líderes (apesar de que este vocábulo não aparece nas páginas da Bíblia, nem em português e nem no grego original. O que encontramos é a palavra servo). Desse jeito, temos o clero profissionalizado que goza de privilégios e dispõe de “autoridade” para tomar deliberações, em muitos dos casos, arbitrárias. E o povo, laico, tido por ignorante das coisas mais profundas de Deus, balança a cabeça de forma afirmativa como amistosas vaquinhas de presépio (desculpe-me mas ela tá afiada hoje). Todavia, à parte de tudo isso, nas Escrituras a igreja funcionava à base de dons místicos do Espírito Santo. Um ministério não era conduzido pela autoridade angariada por um título, mas, pela dinâmica da graça presente na concessão de um dom de Deus. Cada um com o seu. Distribuídos como o Espírito queria.

Uma última remada para finalizar, pois já me estendi demasiadamente, é aurgência em se buscar uma verdadeira comunidade na vivência de igreja. Ou melhor dizendo, convivência. Isso porque comunidade é convívio de realidades em comum. É o âmago de onde emerge o “alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram”. Comunidade é algo diferente de aglomeração. Eu constantemente me encontro numa grande aglomeração humana chamada de Centro da cidade do Rio de Janeiro. Mas, nem por isso, me sinto em casa. Pelo contrário. Porém, quando me reúno com os santos em Cristo Jesus; humanos como eu. Indefesos, inseguros, feridos, mas que nem por isso desistem de sonhar, como eu. Onde posso ser eu mesmo e mesmo assim ser acolhido em graça e na graça. Sinto que pertenço a alguém. Aprendo que a travessia do deserto seria muito mais dolorosa se não existissem companheiros de jornada. Aglomeração é solidão no meio de muita gente. Comunidade é estar junto de, não importando a quantidade de pessoas ao seu redor. Podem ser cem, duzentas ou mil. Mas também vinte ou cinquenta. Não importa. O que vale mesmo é o viver comum em comum. O partilhar de sonhos e de frustrações; de vitórias e de derrotas; de alegrias e de tristezas; de sorrisos e de lágrimas; de vida e de luto. Certa vez li esta frase num livro e nunca mais me esqueci, exatamente por concordar com ela: “As igrejas deveriam ser o último lugar para alguém se sentir só”. Assino em baixo!

Definitivamente, repito, não quero mais ir para a igreja. Espero que você tenha compreendido minhas razões. Não desejo mais ir para a igreja porque igreja se soletra vida cristã. E vida cristã é jornada, é peregrinação que não pode ser asfixiada na clausura de dogmas, vaidades e instituições humanas.

***

Igreja é corpo místico de Cristo. É mistério de sua presença neste mundo que se desdobra por veredas iminentemente humanas, de carne e osso. Assim sendo, desculpe-me a prolixidade, não quero ir para igreja. Quero mais comunidade e menos aglomeração (não desejo me sentir só em meio à multidão). Quero mais simplicidade e menos exibição. Quero amar mais, cuidar mais de gente do que gerenciar grandes estrtuturas que acabam por se tornarem verdadeiros elefantes brancos na sua funcionalidade, atrapalhando mais do que ajudando. Quero mais ministério, mais sacerdócio, mais o servir, e menos profissionalismo clerical. Mais distribuição de dons em detrimento de egos super-inflados por títulos e cargos.

***

Desejo sim, anseio por, estar com a igreja. Almejo com todo o ardor do coraçãoser igreja, ser comunidade, ser Corpo de Cristo, ser família de Deus.

Ir para a igreja!? Perdoe-me a franqueza… Nunca mais!


http://vidacontemplativa.wordpress.com/2009/09/12/nao-quero-mais-ir-para-a-igreja/#comment-58

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