quinta-feira, 4 de junho de 2009


Uma Precaução Contra o Fanatismo

John Wesley

'Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus'. (Filipenses 3:12)

'E João lhe respondeu, dizendo: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue. Jesus, porém, disse: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim'. (Marcos 9:38-39)

1. Nos versos precedentes, nós lemos que, depois dos Doze terem disputado 'qual deles seria o maior', Jesus pegou uma criança pequena, a colocou no meio deles, e a tomando em seus braços disse: 'Quem quer que receba um destes pequenos, em Meu nome, recebe a mim; e quem quer que receba a Mim, não me recebe', apenas 'Aquele que me enviou'. Então, 'João respondeu', ou seja, disse, com referência ao que nosso Senhor tinha falado, exatamente antes: 'Mestre, nós vimos alguém expulsar demônios em Teu nome, e nós o proibimos, porque ele não nos seguia'. Como se ele tivesse dito: ' Nós devíamos tê-lo recebido? Ao recebê-lo, nós teríamos recebido a Ti? Não teria sido melhor proibirmos a ele? Nós não fizemos bem nisto?'. "Mas Jesus disse, 'Não o proíbam!'".
2. A mesma passagem é receitada por Lucas, e quase nas mesmas palavras. Mas pode ser perguntado: 'O que é isto para nós, vendo que nenhum homem agora expulsa demônios? O poder de fazer isto não foi removido da igreja, por cento e doze ou cento e quatorze anos? Como, então, nós devemos entender o caso aqui proposto, ou a decisão de nosso Senhor nisto?'.
3. Talvez, mais proximamente do que é comumente imaginado; o caso proposto não sendo um caso incomum. Para que possamos tirar proveito completo dele, eu pretendo mostrar:
I. Em que sentido, os homens podem expulsar demônios, e o fazem;
II. O que podemos entender por 'Ele não nos seguia';
III. Explicar a direção de nosso Senhor, 'Não o proíbam!';
IV. E concluir com uma inferência do todo.
I
1. Em Primeiro Lugar, eu vou mostrar em que sentido os homens podem expulsar demônios, e o fazem:
Com o objetivo de ter uma visão mais clara disto, nós podemos nos lembrar que (de acordo com o relato bíblico), como Deus habita e opera nos filhos da luz, então, o diabo habita e opera nos filhos das trevas. Como o Espírito Santo possui as almas dos homens bons, então o espírito do diabo possui as almas dos homens maus. Por isto é que o Apóstolo o denomina 'o deus deste mundo'; do poder incontrolável que ele tem sobre os homens mundanos. Por isso, nosso Abençoado Senhor o intitula 'o príncipe deste mundo'; tão absoluto é seu domínio sobre ele. E, por isso, João diz: 'Nós sabemos que somos de Deus, e', todo aquele que não é de Deus, 'o mundo todo', não jaz na maldade, mas 'jaz naquele que é mau'; vive e se move nele, como eles que não são do mundo, o fazem em Deus.
2. Porque o diabo não pode ser considerado apenas como 'um leão que ruge, à procura de alguém que ele possa devorar'. Não meramente como um inimigo perspicaz, que vem, sem avisar, sobre as pobres almas, e 'as leva cativa à sua vontade'; mas como alguém que habita nelas, e caminha nelas; quem decreta a escuridão e a maldade deste mundo (dos homens mundanos e todos os seus desígnios e ações da escuridão), mantendo possessão de seus corações, fixando seu trono lá, e trazendo cada pensamento em obediência a si mesmo. Assim, 'o forte preparou-se para manter sua casa'; e se este 'espírito impuro', algumas vezes, 'não mais habita em um homem', ainda assim, ele retorna com 'sete espíritos piores do que ele mesmo, e eles entram e habitam lá'. Nem ele pode ser ocioso em sua moradia. Ele está continuamente 'trabalhando' nestes 'filhos da desobediência'. Ele trabalha neles com poder, com energia poderosa, transformando-os a sua própria semelhança, eliminando tudo que resta da imagem de Deus, e os preparando para toda palavra e obra pecaminosa.
3. Trata-se, portanto, de uma verdade inquestionável que o deus e príncipe deste mundo ainda possui todos os que não conhecem a Deus. Apenas a maneira como ele os possui difere agora daquele dos velhos tempos. Assim, ele freqüentemente atormentou seus corpos, assim como suas almas (exceto em alguns casos raros); e tão secretamente quanto possível. A razão desta diferença é clara: era, então, o objetivo dele dirigir toda a humanidade para a superstição; portanto, ele forjou tão abertamente quanto ele pode. Mas é seu objetivo, agora, nos conduzir à infidelidade; por conseguinte, ele opera tão privativamente quanto ele pode: porque quanto mais oculto está, mais ele prevalece.
4. Ainda assim, se nós podemos confiar nos historiadores, estas são regiões, mesmo agora, onde ele opera, tão abertamente, como nos tempos passados. 'Mas por que nas regiões selvagens e bárbaras, apenas? Por que não na Itália, França, ou Inglaterra?'. Por uma razão muito simples: ele conhece seus homens, e sabe o que tem de fazer com cada um. Para os nascidos na Lapônia, ele aparece com o rosto à mostra; porque ele os está fixando na supertição e idolatria grosseira. Mas com vocês, ele segue uma conduta diferente. Ele faz com que vocês idolatrem a si mesmos; torna vocês mais sábios, aos seus próprios olhos do que o próprio Deus, e do que os oráculos de Deus. Agora, com o objetivo disto, ele não deve aparecer em sua própria forma: porque isto frustraria seu propósito. Não: Ele usa toda sua arte para fazer você negar sua existência, até que ele tem você a salvo em seu próprio lugar.
5. Ele reina, portanto, embora que de uma maneira diferente; ainda assim, tão absoluto em uma terra como em outra. Ele tem a alegre infidelidade italiana, em seus dentes, tão certamente, quanto o selvagem tártaro [habitante da Tartária]. Mas aquele que é muito sábio para acordá-lo, rapidamente adormece na boca do leão. De modo que ele apenas brinca com ele no presente, e, quando lhe agrada, o consome!
O deus deste mundo agarra seus adoradores ingleses, tão rapidamente quanto esses da Lapônia. Mas não é tarefa dele aterrorizá-los, a fim de que eles não fujam para o Deus dos céus. O príncipe da escuridão, por conseguinte, não aparece, enquanto ele impera sobre esses súditos dispostos. O conquistador prende seus cativos bem à salvo, porque eles se imaginam em liberdade. Assim, 'o forte mantém sua casa segura, e seus pertences estão em paz'; nem o Deísta, nem o Cristão nominal suspeitam que ele está lá; deste modo, ele e eles estão perfeitamente em paz um com o outro.
6. Tudo isto, enquanto ele trabalha com energia absorvida deles. Ele cega os olhos de seu entendimento, de modo que a luz do evangelho glorioso de Cristo não pode brilhar sobre eles. Ele algema suas almas na terra e inferno, com as algemas das próprias afeições vis deles. Ele os liga a terra, através do amor ao mundo, ao dinheiro, ao prazer e louvor. E por meio do orgulho, cobiça, ira, ódio, desejo de vingança, ele faz com que suas almas se aproximem do inferno; agindo de maneira segura e desimpedida, uma vez que eles não sabem que ele age, afinal.
7. Mas quão facilmente podemos conhecer a causa por seus efeitos! Essas, algumas vezes, são grosseiras e palpáveis. Assim, elas eram nas mais refinadas das nações pagãs. Não precisam ir muito longe do que os virtuosos e admiráveis romanos; e vocês encontrarão estes, quando no alto de seu aprendizado e glória, 'cheios com iniqüidade, fornicação, maldade, cobiça, malícia; cheios de inveja, assassinato, disputa, fraude, malignidade, murmúrios, calúnias, acinte, orgulho, ostentação, desobediência aos pais, quebras de aliança, sem afeição natural, implacáveis, e sem misericórdia'.
8. As partes mais fortes desta descrição são confirmadas por alguém que alguns podem pensar ser a mais inquestionável testemunha. Eu quero dizer o irmão ateu deles, Dion Cassius; que observa que, antes do retorno de César da Gália, não apenas a glutonaria e a lascívia de todo o tipo eram notórias, e com o rosto à mostra; não apenas a falsidade, injustiça, e a falta de misericórdia abundavam, nas cortes públicas, assim como nas famílias privadas; mas a maioria dos roubos ultrajantes, saques, e assassinatos eram tão freqüentes, em todas as partes de Roma, que poucos homens saíam de suas portas, sem antes fazerem seus testamentos, já que não sabiam se retornariam vivos!
9. Como grosseiras e palpáveis são as obras do diabo, em meio a muitos (se não todos) os pagãos modernos. A religião natural dos creeks, cherokees, chickasaws, e todos os outros índios, confinados em nossas colônias do sul, (não poucos homens solteiros, mas nações inteiras) torturam todos os seus prisioneiros, de manhã à noite; para que, por fim, eles os assem até a morte; e junto a mais insignificante e involuntária provocação, vêm por trás e atiram, em qualquer um de seus próprios compatriotas! Sim, é uma coisa comum entre eles, já que um filho, se ele pensar que seu pai vai viver muito, esmaga sua cabeça; e uma vez que uma mãe, se ela está cansada de seus filhos, amarra pedras, em volta de seus pescoços, e atira três ou quatro deles dentro do rio, um após o outro!
10. Seria desejável que ninguém, a não ser os pagãos praticassem tais obras grosseiras e palpáveis do diabo. Mas nós não nos atrevemos a dizer isto. Mesmo no que diz respeito á crueldade e carnificina, quão poucos cristãos ficam atrás deles! E não apenas os espanhóis e portugueses matam milhares na América do Sul: não apenas os holandeses no oeste das Índias, ou o Francês na América do Norte, seguindo os espanhóis, passo a passo: nossos compatriotas também têm se vicejado no sangue, e exterminado nações inteiras; plenamente provando, por meio disto, qual o espírito que habita e opera nos filhos da desobediência.
11. Esses monstros poderiam quase nos fazer não tomarmos conhecimento das obras do diabo que são forjadas em nossa região. Mas, ai de mim! Nós não podemos abrir nossos olhos, mesmo aqui, sem os vermos de todos os lados. Não é uma pequena prova de seu poder, que blasfemadores comuns, bêbados, homens devassos, adúlteros, ladrões, assaltantes, sodomitas, assassinos, ainda sejam encontrados em todas as partes de nossa terra? Quão triunfante o príncipe deste mundo reina nesses filhos da desobediência!
12. Menos abertamente, mas não menos efetivamente, ele opera nos dissimuladores, mexeriqueiros, mentirosos, caluniadores; nos opressores e usurários, no perjuro, no vendedor de seu amigo, sua honra, sua consciência, sua cidade. E ainda assim, esses podem falar de religião ou de consciência; de honra, virtude, de espírito público! Mas eles não podem mais enganar satanás do que podem enganar a Deus. Ele igualmente conhece esses que são seus: e uma grande multidão deles, de todas as nações e povos, dos quais ele tem possessão completa até este dia.
13. Se você considera isto, você não pode deixar de ver em que sentido os homens podem também expulsar demônios; sim, e todo Ministro da igreja os expulsa, se a obra do Senhor prospera em suas mãos.
Através do poder de Deus, atendendo sua palavra, ele traz esses pecadores ao arrependimento; uma mudança interna completa, assim como externa. De todo mal para todo bem. E isto é, em um sentido profundo, expulsar demônios das almas, nas quais eles têm habitado até agora. O forte não pode manter sua casa por muito tempo. Um mais forte do que ele vem sobre si, e o expulsa, e toma posse para si mesmo, e faz dela habitação de Deus, através de Seu Espírito. Aqui, então, a energia de satanás termina, e o Filho de Deus 'destrói as obras do diabo'. O entendimento do pecador está agora clareado, e seu coração suavemente se volta para Deus. Seus desejos são refinados, suas afeições purificadas; e, sendo preenchidas com o Espírito Santo, ele cresce na graça. Até que ele não seja apenas santo no coração, mas em tudo aquilo que fala.
14. Tudo isto é, de fato, a obra de Deus. É Deus somente quem pode expulsar satanás. Mas Ele está geralmente agradado de fazer isto, através do homem, como um instrumento nas mãos Dele: quem, então, é dito que expulsa demônio em seu nome, pelo seu poder e autoridade. E Ele envia aqueles a quem Ele irá enviar para esta grande obra; mas usualmente tais homens que nunca teriam pensado sobre isto: porque 'Os caminhos de Deus não são como nossos caminhos; nem seus pensamentos, como nossos pensamentos'. Assim sendo, Ele escolhe o fraco para confundir o forte; o tolo para confundir o sábio; e por este motivo simples, para que Ele possa garantir a glória para si mesmo; para que 'nenhuma carne possa gloriar-se aos olhos Dele'.
II
1. Mas nós não podemos proibir alguém que assim 'expulsa demônios', se 'ele não nos segue?'. Isto, pelo parece, foi ambos o julgamento e a prática do Apóstolo, até que ele referiu o caso ao seu Mestre: 'Nós o proibimos, disse ele, 'porque ele não nos segue!' O que ele supôs ser uma razão mais do que suficiente. O que nós podemos entender por esta expressão: 'Ele não nos segue' é o próximo ponto a ser considerado.
A menor circunstância, que nós podemos entender, por meio disto, é que aquela pessoa não tem ligação exterior conosco. Nós não trabalhamos, em união um com o outro. Ele não é nosso ajudador nas causas do Evangelho. E, de fato, quando quer que agrade nosso Senhor enviar muitos trabalhadores para sua colheita, eles não podem agir, em subordinação, ou ligação, uns com os outros. Mais ainda, eles não podem estar pessoalmente familiarizados, nem serem tão conhecidos uns dos outros. Muitos deverão estar necessariamente, em diferentes partes da colheita, tão longe de terem um intercurso mútuo, que eles serão como absolutos estranhos uns aos outros, como se eles tivessem vivido em diferentes épocas. E concernente alguns desses a quem nós não conhecemos, sem dúvidas, nós podemos dizer: 'Eles não nos seguem'.
2. Um Segundo significado dessa expressão pode ser: -- ele não é de nossa facção. Tem sido, há muito tempo, assunto de melancólica consideração, por parte de todos que oram pela paz em Jerusalém, que tantas facções ainda subsistam em meio a todos esses que são denominados cristãos. Tem sido particularmente observável, em nossos compatriotas, que eles têm continuamente se dividido, em pontos de nenhuma importância, e muitas vezes, tais que não têm nada concernente à religião. As mais levianas circunstâncias têm se erguido de diferentes facções, que têm continuado, por muitas gerações; e cada uma dessas estaria pronta a objetar alguém que estivesse do outro lado: 'Ele não nos segue'.
3. Aquela expressão pode significar, em Terceiro Lugar, -- ele difere de nós, quanto às nossas opiniões religiosas. Houve um tempo, em que todos os cristãos eram de um só pensamento, assim como de um só coração, tão grande era a graça sobre eles, quando eles foram primeiro preenchidos com o Espírito Santo! Mas em quão curto espaço de tempo essa bênção continuou! Quão logo, toda aquela unanimidade foi perdida, e diferenças de opinião brotaram novamente, mesmo na igreja de Cristo! – e estas, não em um cristãos nominais, mas em cristãos reais; mais ainda, nos principais deles, nos próprios Apóstolos! Nem parece que as diferenças que, então, começaram, foram, alguma vez, inteiramente removidas. Nós nos certificamos de que, nem mesmos esses pilares do templo de Deus, por quanto tempo eles permaneceram na terra, foram, alguma vez, levados a pensar do mesmo modo; a terem um só pensamento; particularmente, com respeito à lei cerimonial. Portanto, não é surpresa, de modo algum, que variedades infinitas de opiniões possam agora ser encontradas na igreja cristã. Uma conseqüência muito provável disto é que quando quer que vejamos alguém 'expulsando demônios', ele será alguém que, neste sentido, 'não nos segue' – que não é de nossa opinião. Escassamente deve ser imaginado que ele seja de nossa mente em todos os pontos, mesmo a respeito de religião. Ele pode muito provavelmente pensar de uma maneira diferente de nós, mesmo a respeito de diversos assuntos de importância; tais como a natureza e o uso da lei moral, os decretos eternos de Deus, a suficiência e eficiência de sua graça, e a perseverança de seus filhos.
4. Ele pode diferir de nós, em Quarto Lugar, não apenas em opinião, mas igualmente em algum ponto da prática. Ele pode não aprovar aquela maneira de adorar a Deus, e que seja praticada em nossa congregação; e pode julgar que seja mais proveitoso para sua alma que tenha seu progresso de Calvim ou Martinho Lutero. Ele pode ter muitas objeções, com respeito àquela liturgia que nós aprovamos além de todas as outras; muitas dúvidas, concernentes esta da direção da igreja que nós estimamos ser tanto apostólica, quanto bíblica. Talvez, ele possa ir mais além do que nós: ele pode, por um princípio de consciência, abster-se de diversas dessas ordenanças, que nós acreditamos, serem as ordenanças de Cristo. Ou, se ambos concordamos que elas sejam ordenadas de Deus, ainda pode permanecer uma diferença entre nós, seja quanto à maneira de administrar essas ordenanças, ou quanto às pessoas a quem elas possam ser administradas. Agora, a inevitável conseqüência de algumas dessas diferenças será a de que ele que assim difere de nós deve separar-se de nossa sociedade, com respeito a esses pontos. Neste contexto, portanto, 'ele não nos segue': Ele não é (como exprimimos isto) 'de nossa igreja'.
5. Mas, em um sentido muito mais forte, 'ele não nos segue', não significa apenas que ele é de uma igreja diferente, mas de tal igreja que nós consideramos, em muitos aspectos, não ser bíblica, nem cristã, – uma igreja que nós acreditamos ser extremamente falsa e errônea, em suas doutrinas, assim como, muito perigosamente errada, em sua prática; culpada de supertição grosseira, tanto quanto idolatria, -- uma igreja que tem acrescentado muitas profissões de fé, que, uma vez, foram entregues aos santos; que tem renunciado a um dos mandamentos de Deus, e tem tornado sem efeito os demais, através de suas tradições; e que, pretendendo a mais alta veneração, e mais estrita conformidade para com a igreja primitiva, tem trazido, não obstante, inúmeras inovações, sem qualquer garantia, tanto da Antigüidade, quanto das Escrituras. Agora, mais certamente, 'ele não nos segue', é alguém que fica a uma grande distância de nós.
6. E, ainda assim, pode existir uma diferença mais ampla do que está. Ele que difere de nós, em julgamento ou prática, pode, possivelmente permanecer a uma distância maior de nós na afeição do que no julgamento. E isto, de fato, é um efeito muito natural e muito comum do outro. As diferenças que começam nos pontos de opinião, raramente terminam lá. Elas geralmente se espalham nas afeições, e, então, separam os principais amigos. Nem algumas animosidades são tão profundas e irreconciliáveis quanto essas que brotam das discordâncias na religião. Porque este motivo, os mais amargos inimigos de um homem são aqueles de sua própria casa. Uma vez que um pai se ergue contra seus filhos; e seus filhos contra o pai; e, talvez, persigam, uns aos outros, até mesmo, à morte, pensando, todo o tempo, que eles estão fazendo um serviço a Deus.
Portanto, tudo que podemos esperar destes que diferem de nós, tanto nas opiniões religiosas, quanto nas práticas, é que eles logo contraiam uma aspereza; sim, uma amargura em direção a nós; se forem, mais ou menos, imbuídos de preconceitos contra nós, até terem uma opinião doentia quanto à nossa pessoa ou aos nossos princípios. Uma conseqüência quase necessária disto será que eles irão falar da mesma maneira que eles pensam de nós. Eles irão situar-se em oposição a nós, e, quanto mais eles forem capazes, mais ocultarão nossa obra; vendo que ela não parece a eles ser obra de Deus, mas tanto de homem, quanto do diabo. Ele que pensa, fala, e age de tal maneira como esta, no mais alto sentido, 'não nos segue'.
6. E, ainda assim, pode existir uma diferença maior do que esta. Ele que difere de nós, em julgamento ou prática, pode, possivelmente permanecer a uma distância maior de nós na afeição do que no julgamento. E isto, de fato, é um efeito muito natural e muito comum do outro. As diferenças que começam nos pontos de opinião, raramente terminam lá. Elas geralmente se espalham nas afeições, e, então, separam os principais amigos. Nem algumas animosidades são tão profundas e irreconciliáveis quanto essas que brotam das discordâncias na religião. Porque este motivo, os mais amargos inimigos de um homem são aqueles de sua própria casa. Uma vez que um pai se ergue contra seus filhos; e seus filhos contra o pai; e, talvez, persigam, uns aos outros, até mesmo, à morte, pensando, todo o tempo, que eles estão fazendo um serviço a Deus.
Portanto, tudo que podemos esperar destes que diferem de nós, tanto nas opiniões religiosas, quanto nas práticas, é que eles logo contraiam uma aspereza; sim, uma amargura em direção a nós; se forem, mais ou menos, imbuídos de preconceitos contra nós, até terem uma opinião doentia quanto à nossa pessoa ou aos nossos princípios. Uma conseqüência quase necessária disto será que eles irão falar da mesma maneira que eles pensam de nós. Eles irão situar-se em oposição a nós, e, quanto mais eles forem capazes, mais ocultarão nossa obra; vendo que ela não parece a eles ser obra de Deus, mas tanto de homem, quanto do diabo. Ele que pensa, fala, e age de tal maneira como esta, no mais alto sentido, 'não nos segue'.
7. Realmente, eu não entendo que a pessoa, de quem o Apóstolo fala no texto, (embora tenhamos nenhum relato pessoal dele; tanto no contexto, quanto em qualquer outra parte dos santos escritos) foi assim tão longe. Nós não temos fundamento para supormos que existiu algum material diferente entre ele e os Apóstolos; muito menos, que ele tivesse algum preconceito, tanto contra eles, quanto ao seu Mestre. Nós podemos compreender, assim, das próprias palavras de nosso Senhor, que imediatamente se seguem ao texto: 'Não existe homem algum que faça milagre em Meu nome, que possa levianamente falar mal de mim'. Mas eu, propositadamente, coloco o caso, sob uma luz mais forte, acrescentando todas as circunstâncias que possam bem ser concebidas; para que, estando protegida da tentação, em sua força total, nós possamos, de maneira alguma, nos rendermos a ela, e lutarmos contra Deus.
III
1. Suponha, então, um homem que não tenha intercurso algum conosco; suponha que ele não seja de nossa facção; suponha que ele se separou de nossa igreja; sim, e abertamente difere de nós, tanto em julgamento, quanto na prática e afeição; ainda assim, se nós virmos, alguma vezes, este homem 'expulsando demônios', Jesus diria, 'Não o proíbam'. Esta direção importante de nosso Senhor, eu vou explicar, em Terceiro Lugar:
2. Se nós virmos este homem expulsando demônios: nestes casos, seria bom se pudermos acreditar, realmente, no que vimos com nossos olhos; se nós não estamos mentindo aos nossos próprios sentidos. Estará pouco familiarizado com a natureza humana, aquele que não percebe, imediatamente, o quanto estamos extremamente despreparados, em acreditarmos que algum homem que expulsa demônios, 'não nos segue', em todos, ou na maioria dos sentidos acima citados: eu quase diria que em qualquer um deles, vendo que nós podemos facilmente compreender. mesmo do que se passa, em nossos próprios peitos, quão pouco dispostos os homens estão de admitirem algum bem naqueles que não concordam com eles em todas as coisas.
3. 'Mas o que é uma prova suficiente e razoável de que um homem (no sentido acima citado) expulsa demônios?'. A resposta é fácil. Existem provas completas: (1) Esta pessoa foi antes um pecador grosseiro e declarado? (2) Ela não é assim agora? Ela rompeu com seus pecados, e vive uma vida cristã? (3) Esta mudança foi forjada, através de ouvir este homem pregar? Se esses três pontos foram claros e inegáveis, então, você tem prova suficiente e inegável - tal que você não poderá recusar, sem pecar terrivelmente, de que este homem expulsa demônios.
4. Então, 'não o proíba'. Cuide de não tentar impedi-lo, quer através de sua autoridade, seus argumentos, ou persuasões. De maneira alguma, esforce-se para impedir que ele use de todo o poder que Deus deu a ele. Se você tem autoridade sobre ele, não use desta autoridade para parar a obra de Deus. Não lhe forneça razões, com as quais ele não possa mais falar em nome de Jesus. Satanás não falhará em supri-lo com essas, se você não subordiná-lo nisto. Persuada-o a não deixar a obra. Se ele der lugar para o diabo e você, muitas almas poderão perecer, nas suas iniqüidades, mas o sangue delas, Deus irá requer de suas mãos, e não, das mãos dele.
5. 'Mas, e se ele for apenas um leigo que expulsa demônios, nós não devemos proibi-lo, então?'.
Admitiu-se o fato? Existe prova razoável de que este homem tem ou expulsa demônios? Se há, não o proíba; não, colocando em risco a sua alma! Deus não deverá operar, através daquele que ele irá operar? Nenhum homem pode fazer essas obras, a menos que Deus esteja com ele; a menos que Deus o tenha enviado para esta mesma coisa. Mas, se Deus o tem enviado, você irá chamá-lo de volta? Você irá proibi-lo de ir?
6. 'Mas eu não sei, se ele é enviado de Deus'. 'Agora, nisto está uma coisa maravilhosa': (possam quaisquer dos sinais de sua missão dizer de alguém, a quem ele trouxe de satanás para Deus). 'Mesmo que você não saiba de onde este homem é; observe, ele abriu meus olhos! Se este homem não fosse de Deus, ele não poderia fazer coisa alguma!'. Se você duvida do fato, mande buscar os pais deste homem; seus irmãos, amigos, familiares. Mas, se você não pode duvidar disto; se você não tem necessidade de reconhecer 'que um milagre notável tem sido forjado', então, com que consciência; com que cara, você pode instruir aquele a quem Deus enviou a 'não mais falar em seu nome?'.
7. Eu admito que é altamente expediente, quem quer que pregue em seu nome, possa ter um chamado exterior, assim como interior, mas que seja absolutamente necessário, eu nego.
"Mas não são as Escrituras que dizem: 'E ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão'. (Hebreus 5:4)?".
Inúmeras vezes, este texto tem sido citado para esta ocasião, como contendo a mais forte das razões; mas, certamente, nunca em tão infeliz citação: Porque, Primeiro, Arão não foi chamado para pregar, afinal: ele foi chamado para 'oferecer dons e sacrifícios pelo pecado'. Aquela foi sua ocupação peculiar. Em Segundo Lugar, esses homens não oferecem sacrifício, afinal, mas apenas pregam; o que Arão não fez. Por conseguinte, não é possível encontrar algum texto, em toda a Bíblia que seja mais distante do ponto que este.
8. 'Mas qual era a prática dos tempos apostólicos?'. Você pode facilmente ver nos Atos dos Apóstolos. No oitavo capítulo, nós lemos: (Verso 1) 'Havia uma grande perseguição contra a igreja que havia em Jerusalém, e eles todos se espalharam por todos os lados, através de regiões da Judéia e Samaria, exceto os Apóstolos'.-- (Verso 4) 'Conseqüentemente, eles que foram espalhados nos arredores foram para todos os lugares pregarem a Palavra'. (Atos 8:4) 'Mas os que andavam dispersos iam por toda à parte, anunciando a palavra'. Agora, todos esses foram chamados exteriormente para pregar? Nenhum homem de bom senso pode pensar assim. Aqui, então, está uma prova inegável do que foi a prática dos tempos apostólicos. Aqui você não vê uma, mas uma multidão de pregadores leigos; homens que foram apenas enviados de Deus.
9. De fato, muito longe está a prática dos tempos apostólicos de nos inclinar a pensar que era ilícito para um homem pregar, antes que ele fosse ordenado; que nós temos razão para pensar que fosse, então, considerado necessário. Certamente, a prática e a direção do Apóstolo Paulo foi provar a um homem antes que ele fosse ordenado, afinal. 'Que estes' (os diáconos), diz ele, 'sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis' (I Timóteo 3:10). Provados como? Colocando-os para traduzirem uma sentença do Grego, e perguntar a eles algumas questões triviais? Ó, que prova surpreendente de um Ministro de Cristo! Não. Mas para fazer uma experiência clara, aberta (como ainda é feita pela maioria das Igrejas Protestantes da Europa), não apenas se suas vidas são santas e irrepreensíveis, mas se eles têm alguns dons, que são absolutamente e indispensavelmente necessários, com o objetivo de edificar a igreja de Cristo.
10. Mas, e se um homem tem esses dons, e trouxe os pecadores ao arrependimento, e ainda assim, o Bispo não o ordena? Então, o Bispo o proíbe de expulsar demônios. Mas eu não me atrevo a proibi-lo: eu tenho publicado minhas razões para o mundo todo. Ainda assim, insiste-se que eu deva fazer isto. Você que insiste nisto, apresente seus motivos. Eu não conheço pessoa alguma que já tenha feito isto, ou mesmo, tenha tentado fazer isto. Apenas alguns têm falado deles, de maneira fraca e superficial: e isto foi prudente o suficiente; já que é muito mais fácil menosprezar; pelo menos, parecer menosprezar um argumento do que respondê-lo. Assim sendo, até que isto seja feito, eu devo dizer que, quando eu tenho prova razoável de que algum homem expulsa demônios, o que quer que outros façam, eu não me atrevo a proibi-lo, a fim de que eu não seja encontrado, certamente, lutando contra Deus.
11. E quem quer que tu sejas que temes a Deus, 'não o proíbe'; tanto diretamente, quanto indiretamente. Existem muitas formas de se fazer isto. Você indiretamente o proíbe, se você nega totalmente, ou menospreza, ou faz pouca conta da obra que Deus tem forjado, através das mãos dele. Você indiretamente o proíbe, quando você o desencoraja, em sua obra, arrastando-o para disputas, concernentes a ela, levantando objeções contra, ou o amedrontando, com conseqüências, que, muito possivelmente, nunca ocorrerão. Você o proíbe, quando você mostra alguma indelicadeza, em direção a ele, tanto no vocabulário, quanto no comportamento; e muito mais, quando você fala dele para outros; de uma maneira indelicada ou desdenhosa; quando você se esforça para descrevê-lo a alguém, sob uma luz odiosa ou desprezível. Você o está proibindo, todo o tempo, se você fala mal dele, se não faz conta de seus trabalhos. Ó não o proíba, em nenhum desses casos; nem proíba a outros de ouvi-lo, -- desencorajando os pecadores de ouvirem aquela palavra que é capaz de salvar suas almas!
12. Sim, se você puder observar a direção de nosso Senhor, em seu completo significado e extensão, então, lembre-se desta palavra: 'Ele que não é por nós, é contra nós' -- (Lucas 9:50) 'E Jesus lhes disse: Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós'.—'E ele que não se reúne a mim, se dispersa': ele que não reúne homens, no reino de Deus, seguramente dispersa-se dele. (Mateus 12:30) 'Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha'. Não pode existir neutralidade nesta guerra. Cada um está, ou do lado de Deus, ou do lado de satanás. Você está do lado de Deus? Então, você, não apenas, não irá proibir qualquer homem de expulsar demônios, mas irá trabalhar, com o todo o seu poder, para animá-lo em seu trabalho. Você rapidamente irá reconhecer a obra de Deus, e confessar a grandeza dele. Você irá remover, do seu caminho, todas as dificuldades e objeções, por quanto tempo possam existir. Você irá fortalecer suas mãos, falando honrosamente dele, diante de todos os homens, e admitindo as coisas que você tem visto e ouvido. Você irá encorajar outros a atenderem a sua palavra; a ouvirem a ele, a quem Deus enviou. E você não irá desprezar uma prova real do amor terno, com que Deus dá a oportunidade de você mostrar a ele.
IV
1. Se nós prontamente falhamos, em alguns desses pontos; se nós tanto diretamente, quanto indiretamente o proibimos, 'porque ele não nos segue'; então, nós somos fanáticos. Esta é a inferência que eu concluo do que tem sido dito. Mas o termo 'fanatismo', eu temo, tão freqüentemente quanto ele é usado, é quase tão pouco entendido quanto 'entusiasmo'. Trata-se de uma ligação muito forte, ou um apego à nossa própria facção, opinião, igreja e religião. Portanto, é fanático aquele que é tão aficionado a alguns desses, tão fortemente atado a eles, de maneira a proibir que alguém que difira dele, em alguns, ou em todos esses aspectos, expulse demônios.
2. Você se guarda disto. Então, toma cuidado...
Para que você não se condene ao fanatismo, pela má vontade em acreditar que alguém que difira de você, expulse demônios. E se você está seguro, tanto assim; se você reconhece o fato, então, examine-se:
Será que eu não estou sendo fanático, em proibi-lo direta ou indiretamente? Eu não o proíbo diretamente neste assunto, porque ele não é da minha facção; porque ele não concorda com minhas opiniões; porque ele não adora a Deus, de acordo com aquela forma de religião que eu tenho recebido de meus antepassados?
3. Examine-se: Eu não o proíbo indiretamente, pelo menos, em alguns desses fundamentos? Eu não lamento que Deus possa assim reconhecer e abençoar um homem que abraça tais opiniões errôneas? Eu não o desencorajo, porque ele não é de minha igreja, disputando com ele, concernente a ela; levantando objeções, e trazendo perplexidade a sua mente, com respeito a conseqüências remotas? Eu não mostro ira, contenda, ou indelicadeza de alguma espécie, tanto em minhas palavras quanto em minhas ações? Eu não menciono, pelas suas costas, suas (reais ou supostas) falhas – seus defeitos ou enfermidades? Eu não impeço os pecadores de ouvirem suas palavras? -- Se você faz algumas dessas coisas, você é, no momento, um fanático.
4. 'Examine-me, Ó Senhor, e me prove. Teste meus afetos e meu coração! Olhe bem, se existe algum caminho para' o fanatismo 'em mim, e me conduza ao caminho eterno'. Com o objetivo de examinarmos a nós mesmos, totalmente, permita que o caso seja proposto de uma maneira mais forte. E se eu vir um católico, um ariano, um sociniano [quem rejeita a Trindade, e, especialmente a divindade de Jesus], expulsando demônios? Se eu visse, eu não poderia proibir, mesmo ele, sem convencer-me de fanatismo. Sim, se pudesse ser suposto que eu veria um judeu, um deísta, ou um, turco, fazendo o mesmo, fosse eu proibi-lo, tanto direta, quanto indiretamente, eu seria nada melhor do que um fanático ainda.
5. Ó, permaneça afastado disto! Mas não esteja satisfeito com o não proibir alguém de expulsar demônios. É bom ter chegado, assim tão longe; mas não pare por aqui. Se você for esquivar-se de todo fanatismo, siga em frente. Em todo exemplo deste tipo, qualquer que seja o instrumento, reconheça o dedo de Deus. E não apenas reconheça, mas regozije-se do trabalho dele, e louve seu nome com ações de graça. Encoraje a quem quer que Deus se agrade de empregar, a entregar-se completamente a isto. Fale bem dele, onde quer que você esteja; defenda seu caráter e sua missão. Amplie, tanto quanto você puder, a esfera de ação dele, mostre a ele toda delicadeza em palavras e feitos; e não cesse de clamar a Deus em seu benefício; para que ele possa tanto salvar a si mesmo, quanto àqueles que o ouvem.
6. Eu preciso acrescentar mais um aviso: Não pense que o fanatismo do outro, é alguma desculpa para o seu fanatismo. Não é impossível, que alguém que expulse demônios, ele mesmo, possa, ainda assim, proibir você de assim o fazer. Você pode observar que este é o mesmo caso mencionado no texto. Os Apóstolos proibiram outro de fazer o que eles mesmos faziam. Mas, cuide de não revidar. Não lhe cabe retornar o mal com o mal. A não observância do outro da direção de nosso Senhor, não é razão para que você possa negligenciá-la. Mais do que isto: permita que ele tenha todo fanatismo em si mesmo. Se ele proibir você, não o proíba. Antes, trabalhe, vigie, e ore mais, para confirmar seu amor em direção a ele. Se ele falar todo tipo de coisas más de você, fale todo tipo de coisas boas (que sejam verdadeiras) dele. Imite, nisto, aquele dizer glorioso de um grande homem, (Ó, que ele tivesse respirado sempre o mesmo espírito!): 'Que Lutero me chame de milhares de demônios; eu ainda irei reverenciá-lo como um mensageiro de Deus'.
[Editado anonimamente na Memorial University of Newfoundland com correções por George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]

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